terça-feira, 31 de maio de 2011

Milonga


Milonga, de Marcelo Mello, é mais uma das minhas favoritas do grupo Cravo-da-Terra, a introdução é simplesmente fantástica! Essa música está no primeiro disco do grupo de 2005. Participam da faixa: Ive Luna (voz, flauta transversal, flauta de bambu, vocal); Marcelo Mello (violino, violão, bambu, vocal); Luís Coelho (violão, reco-reco, vocal) e Mateus Costa (contrabaixo acústico, cordas de contrabaixo percutidas, vocal); com a participação de Marcos Vinícius (caixa do divino e chocalho) e Vanderlei Souza (Lê) (cajon, assobios, placa de metal, campainha de telefone, chocalho, caxixi).


Outra versão muito legal de Milonga, também interpretada por Ive Luna, está no disco Narrativas de Catarina (2008), com Carla Pronsato (piano). Rodrigo Paiva (bateria) complementa o trio desse disco, mas ele não participa nessa faixa. O arranjo é de Luiz Gustavo Zago. Narrativas de Catarina pode ser ouvido na íntegra aqui.

Milonga
Marcelo Mello

Toda a extensão dessa areia,
Que outrora viu a festança
Dos corpos libertos
Na dança da aldeia.

Essas montanhas peladas,
Que outrora foram o berço
De caras pintadas
Agora caladas.

Quando esse mar refletia
A lua cheia que
Outrora brilhava e banhava
Uma gente sadia

Eh! Daruê...

Hoje te vejo calada.
Já não há festa nem dança,
Somente a lembrança
Da alma violada.

Essa explosão amarela,
Nessas montanhas que
Agora contemplam
Uns restos de vida singela.

Agora a terra nos chama
E a lua cheia,
De tanto descaso e abandono,
Do alto reclama.

Eh! Daruê...

Áudio Cravo-da-Terra (também aqui)



Áudio Ive Luna e Carla Pronsato aqui

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Velho Francisco



O Velho Francisco
Chico Buarque
 
Já gozei de boa vida
Tinha até meu bangalô
Cobertor, comida
Roupa lavada
Vida veio e me levou

Fui eu mesmo alforriado
Pela mão do Imperador
Tive terra, arado
Cavalo e brida
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco, vem
Todo domingo
Tem cheiro de flor

Quem me vê, vê nem bagaço
Do que viu quem me enfrentou
Campeão do mundo
Em queda de braço
Vida veio e me levou

Li jornal, bula e prefácio
Que aprendi sem professor
Frequentei palácio
Sem fazer feio
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco, vem
Todo domingo
Tem cheiro de flor

Eu gerei dezoito filhas
Me tornei navegador
Vice-rei das ilhas
Da Caraíba
Vida veio e me levou

Fechei negócio da China
Desbravei o interior
Possuí mina
De prata, jazida
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Hoje não deram almoço, né
Acho que o moço até
Nem me lavou

Acho que fui deputado
Acho que tudo acabou
Quase que
Já não me lembro de nada
Vida veio e me levou

Vídeo Chico Buarque

Assentamento


Assentamento 
Chico Buarque

Quando eu morrer, que me enterrem na
beira do chapadão
- contente com minha terra
cansado de tanta guerra
crescido de coração
Tôo
(apud Guimarães Rosa)


Zanza daqui
Zanza pra acolá
Fim de feira, periferia afora
A cidade não mora mais em mim
Francisco, Serafim
Vamos embora

Ver o capim
Ver o baobá
Vamos ver a campina quando flora
A piracema, rios contravim
Binho, Bel, Bia, Quim
Vamos embora

Quando eu morrer
Cansado de guerra
Morro de bem
Com a minha terra:
Cana, caqui
Inhame, abóbora
Onde só vento se semeava outrora
Amplidão, nação, sertão sem fim
Ó Manuel, Miguilim
Vamos embora

Vídeo Chico Buarque

domingo, 29 de maio de 2011

Uma Palavra


Uma Palavra
Chico Buarque

Palavra prima
Uma palavra só, a crua palavra
Que quer dizer
Tudo
Anterior ao entendimento, palavra

Palavra viva
Palavra com temperatura, palavra
Que se produz
Muda
Feita de luz mais que de vento, palavra

Palavra dócil
Palavra d'água pra qualquer moldura
Que se acomoda em balde, em verso, em mágoa
Qualquer feição de se manter palavra

Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra

Talvez, à noite
Quase-palavra que um de nós murmura
Que ela mistura as letras que eu invento
Outras pronúncias do prazer, palavra

Palavra boa
Não de fazer literatura, palavra
Mas de habitar
Fundo
O coração do pensamento, palavra

Áudio Chico Buarque

A Terceira Margem do Rio


A Terceira Margem do Rio
Milton Nascimento e Caetano Veloso

Oco de pau que diz:
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira

Água da palavra
Água calada, pura
Água da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai

Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai

Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio riu, ri
O que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi
A voz das águas

Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai

Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai

Vídeo Milton Nascimento e Caetano Veloso



Áudio Caetano Veloso



Áudio Milton Nascimento

sábado, 28 de maio de 2011

Lindeza


Lindeza
Caetano Veloso

Coisa linda
É mais que uma ideia louca
Ver-te ao alcance da boca
Eu nem posso acreditar

Coisa linda
Minha humanidade cresce
Quando o mundo te oferece
E enfim te dás, tens lugar

Promessa de felicidade
Festa da vontade, nítido farol
Sinal novo sob o sol
Vida mais real

Coisa linda
Lua, lua, lua, lua
Sol, palavra, dança nua
Pluma, tela, pétala

Coisa linda
Desejar-te desde sempre
Ter-te agora e o dia é sempre
Uma alegria pra sempre

Áudio Caetano Veloso

Você É Linda


Você É Linda
Caetano Veloso

Fonte de mel
Nuns olhos de gueixa
Kabuki máscara
Choque entre o azul
E o cacho de acácias
Luz das acácias
Você é mãe do sol

A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta
Você me deixa a rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás

Linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

Você é linda
Mais que demais
Você é linda, sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Você é forte
Dentes e músculos
Peitos e lábios
Você é forte
Letras e músicas
Todas as músicas
Que ainda hei de ouvir

No Abaeté, areias e estrelas
Não são mais belas
Do que você
Mulher das estrelas
Mina de estrelas
Diga o que você quer

Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

Você é linda
Mais que demais
Você é linda, sim
Onda do mar, do amor
Que bateu em mim

Gosto de ver
Você no seu ritmo
Dona do carnaval
Gosto de ter
Sentir seu estilo
Ir no seu íntimo
Nunca me faça mal

Linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

Áudio Caetano Veloso

Coisa Mais Linda


Coisa Mais Linda
Carlos Lyra e Vinicius de Moraes

Coisa mais bonita é você,
Assim,
Justinho você
Eu juro,eu não sei porque você
Você é mais bonita que a flor,
Quem dera,
A primavera da flor
Tivesse todo esse aroma de beleza que é o amor
Perfumando a natureza,
Numa forma de mulher
Porque tão linda assim não existe a flor
Nem mesmo a cor não existe
E o amor
Nem mesmo o amor existe
Porque tão linda assim não existe
A flor
Nem mesmo a cor não existe
E o amor,
Nem mesmo o amor existe

Áudio Caetano Veloso

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Luz


Luz
Djavan

No burro a canga
Na menina a tanga
O verde do mar é um
Verde num toque quase azul
Do infinito ao zoom...
Marelou...
Candomblé Oxum
Zamburar pra tirar egum
O que não se vê
Tá aí
Como tudo o que há
Minha fé riu-se de mim
Pelo quanto triste
Eu falei de dor
Como se no fundo
Da dor
Não vivesse a paixão

Mal-me-quer...
A vida segue seu lamento
Um tanto flor
Um leito de rio
No cio
Um cheiro de amor
É amor
Quando não diz
É fogo por um triz
Um trem entrou no meu "Eu"

E divagou feliz...
E na dor
Eu passo um giz
Arco-irisando a solidão
Na lição
Que o sol me traduz:
Viver da própria luz

Áudio Djavan (flauta: Hubert Laws)

Outono


Outono
Djavan

Um olhar uma luz
Ou um par de pérolas
Mesmo sendo azuis
Sou teu e te devo
Por essa riqueza

Uma boca que eu sei
Não porque me fala lindo
E sim, beija bem
Tudo é viável
Pra quem faz com prazer

Sedução, frenesi
Sinto você assim
Sensual, árvore
Espécie escolhida
Pra ser a mão do ouro
O outono traduzir
Viver o esplendor em si
Tua pele um bourbon
Me aquece como eu quero
Sweet home
Gostar é atual
Além de ser
Tão bom

Áudio Djavan

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Oração - Nantes


Me apresentaram o vídeo desta música e achei ótimo. O grupo A Banda Mais Bonita da Cidade é de Curitiba e tá fazendo o maior sucesso na internet.

Oração
Leo Fressato

Meu amor
Essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa
Cabe o meu amor
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabem nós dois
Cabe até o
Meu amor

Cabe essa oração

Vídeo A Banda Mais Bonita da Cidade (mais informações aqui)






O pessoal da Banda Mais Bonita da Cidade é inspirado confesso na Banda Beirut, cujo clip da música Nantes também é postado aqui.

Nantes
Zach Condon

Well it's been a long time, long time now
since I've seen you smile.
And I'll gamble away my fright.
And I'll gamble away my time.
And in a year, a year or so
this will slip into the sea
Well, it's been a long time, long time now
since I've seen you smile

Nobody raise your voices
Just another night in Nantes

Vídeo Beirut

terça-feira, 24 de maio de 2011

Saudade dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)


Saudade dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)
Milton Nascimento e Fernanado Brant

Lá vinha o bonde no sobe e desce ladeira
E o motorneiro parava a orquestra um minuto
Para me contar casos da campanha da Itália
E do tiro que ele não levou
Levei um susto imenso nas asas da Panair
Descobri que as coisas mudam
E que tudo é pequeno nas asas da Panair

E lá vai menino xingando padre e pedra
E lá vai menino lambendo podre delícia
E lá vai menino senhor de todo o fruto
Sem nenhum pecado sem pavor
O medo em minha vida nasceu muito depois
Descobri que minha arma é o que a memória guarda
Dos tempos da Panair

Nada de triste existe que não se esqueça
Alguém insiste e fala ao coração
Tudo de triste existe e não se esquece
Alguém insiste e fere no coração
Nada de novo existe neste planeta
Que não se fale aqui na mesa de bar

E aquela briga e aquela fome de bola
E aquele tango e aquela dama da noite
E aquela mancha e a fala oculta
Que no fundo do quintal morreu
Morri a cada dia dos dias que eu vivi
Cerveja que tomo hoje é apenas em memória
Dos tempos da Panair
A primeira Coca-Cola foi me lembro bem agora
Nas asas da Panair
A maior das maravilhas foi voando sobre o mundo
Nas asas da Panair

Nada de triste...

Em volta dessa mesa velhos e moços
Lembrando o que já foi
Em volta dessa mesa existem outras falando tão igual
Em volta dessas mesas existe a rua
Vivendo seu normal
Em volta dessa rua uma cidade sonhando seus metais
Em volta da cidade...

Vídeo Elis Regina

domingo, 22 de maio de 2011

Pato Preto

 
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L'essentiel est invisible. On ne voit qu'avec le coeur. Esse texto de Saint-Exupéry aparece no belo encarte, com fotos de Ana Lontra Jobim, de Antonio Brasileiro (1994), último disco de Tom Jobim. É um trecho de O Pequeno Príncipe (que pode ser lido na íntegra em francês - e com links para outras línguas aqui - e em português aqui), quando a raposa diz adeus ao menino e acrescenta: "Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos". Eu associo a citação de Exupéry também com a Música, essa entidade invisível e essencial que me envolve e me deixa, a cada dia, cada vez mais perto do coração selvagem...

fotos de Ana Lontra Jobim nas páginas centrais do encarte do disco Antonio Brasileiro

Neste post apresento a música Pato Preto, de Tom Jobim, do álbum mencionado acima. Note que o tema no final é o mesmo que encerra Gabriela, do post anterior. Participam desta faixa Tom Jobim (voz e piano), Jaques Morelenbaum (violoncelo), Paulo Jobim (violão e viola caipira), Danilo Caymmi (flauta), Sebastião Neto (baixo), Paulo Braga (bateria e percussão), Duduka da Fonseca (percussão) e nos vocais Ana Jobim, Elizabeth Jobim, Simone Caymmi, Maúcha Adnet e Paula Morelenbaum.       

Pato Preto 
Tom Jobim

O pato preto de asa branca
Já fez morada no brejão
Isso é sinal que a chuva vem
Que vai ter safra no sertão

O pato preto é da floresta
O paturi é do sertão
A minha vida é cardigueira
Avoante arribação

A minha vida é muito triste
A te esperar na solidão
Ah! se eu soubesse que era assim
Eu juro, eu não casava não

Eu vou me embora pra São Paulo
Vou arranjar uma viração
Depois te pego com as crianças
A sanfona e o violão

E os meninos tão bonitos
Inocentes do sertão
E a danada desta seca
Ai meu Deus que judiação
Leva nós lá pra São Paulo
Aqui não fico mais não

A minha vida é só tristeza
É desespero, é solidão
O Zeca foi lá pra São Paulo
Acho que não volta mais não

Era uma nuvem tão bonita
Era uma rosa era um balão
O camiranga deu uma volta
E sumiu na imensidão

Ó o dandá, ó o dandá
Ó o dandá, ó o dandá
O dandá, ó o dandá

É na corda da viola todo mundo sambar
É na corda da viola todo mundo sambar
Todo mundo sambar
Todo mundo sambar
Ei, andei, andei, andei
Quebra pedra

Áudio Tom Jobim

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Gabriela

clique na foto para ampliar

Na última sexta cheguei em casa e fui assistir TV. Zapeando pelos canais, de repente não acreditei no que tava passando no Canal Viva: Tom Jobim e a Nova Banda no programa Chico & Caetano, que foi ao ar em 1986 na Globo. Eles estavam apresentando Gabriela, que é o Tema de Amor de Gabriela, do Tom, da trilha do filme Gabriela, Cravo e Canela (1983), de Bruno Barreto, seguido de um trecho de Do Pilá (Do Pilar), de Jararaca, Augusto Calheiros e Zé do Bambo, e encerrando com um tema que também aparece no final de Pato Preto, de Tom, em seu último álbum, Brasileiro, de 1994. Simplesmente linda a apresentação!! Teve um momento que até o Caetano se deitou no chão estarrecido. Os programas Chico & Caetano vão ao ar nas sextas às 22h, com horário alternativo aos domingos às 21h.  Procurei essa apresentação no YouTube, mas não a encontrei. Porém, há o vídeo postado aqui da apresentação no Canadá, do mesmo ano, também com Tom Jobim (voz e piano) e a Nova Banda: Jaques Morelenbaum (violoncelo), Paulo Jobim (violão), Danilo Caymmi (voz e flauta), Sebastião Neto (baixo), Paulo Braga (bateria) e nos vocais Ana Jobim, Elizabeth Jobim, Simone Caymmi, Maúcha Adnet e Paula Morelenbaum. Gabriela também está presente no álbum Passarim (1987), de Tom com a Nova Banda.

Gabriela
Tom Jobim

Vim do norte vim de longe
De um lugar que já nem há
Vim dormindo pela estrada
Vim parar neste lugar
Meu cheiro é de cravo
Minha cor de canela
A minha bandeira
É verde e amarela
Pimenta de cheiro
Cebola em rodela
Um beijo na boca
Feijão na panela
Gabriela
Sempre Gabriela

Passei um café inda escuro
E logo me pus a caminho
Eu quero rever Gabriela
De novo provar seu cheirinho
Manhã bem cedinho na mata
O sol derramou seu carinho
Um brilho na folha da jaca
Pensei em rever meu benzinho
Gabriela

Se ainda sobrasse um dinheiro
Podia comprar-te um vestido
E mais um vidrinho de cheiro
Contar-te um segredo no ouvido
Te trouxe um anel verdadeiro
Sonhei que era teu preferido
Pensei, repensei tanta coisa
Ah, me deixa ser teu marido
Pensei, repensei tanta coisa
Queria casar-me contigo
Gabriela
Gabriela
Todos os dias esta saudade
Felicidade cadê você
Já não consigo viver sem ela
Eu vim à cidade pra ver Gabriela

Tenho pensado muito na vida
Volta bandida mata essa dor
Volta pra casa, fica comigo
Eu te perdoo com raiva e amor
Chega mais perto, moço bonito
Chega mais perto meu raio de sol
A minha casa é um escuro deserto
Mas com você ela é cheia de sol
Molha a tua boca na minha boca
A tua boca é meu doce é meu sal

Mas quem sou eu nesta vida tão louca?
Mais um palhaço no teu carnaval
Casa de sombra vida de monge
Quanta cachaça na minha dor
Volta pra casa, fica comigo
Vem que eu te espero tremendo de amor

Em noite sem lua, pulei a cancela
Cai do cavalo, perdi Gabriela
Oh lua de cera, oh lua singela
Lua feiticeira cadê Gabriela?

Ontem vim de lá do Pilar
Inda ontem vim lá do Pilar
Já tô com vontade de ir por aí
Ontem vim de lá
Inda ontem vim de lá
Já tô com vontade de ir por aí

E na corda da viola todo mundo sambar
E na corda da viola todo mundo sambar
Todo mundo sambar
Todo mundo sambar
Ei, andei, andei, andei
Quebra pedra

Vídeo Tom Jobim e Nova Banda no Canadá

Boto (Porpoise)


A carta acima, obtida aqui, foi redigida a mão por Jararaca autorizando Tom Jobim a incluir o tema de sua música Do Pilar (Do Pilá) na composição Boto, lançada por Tom em seu álbum Urubu, de 1976. Participam dessa gravação o próprio Tom (voz e piano elétrico), Miúcha (voz), João Palma (bateria), Ray Armando (percussão), Ron Carter (contrabaixo), com arranjo de Claus Ogerman. Também postei a versão de Elis Regina em seu disco Transversal do Tempo, de 1978. Participam: Cesar Camargo Mariano (teclados e arranjo), Crispim Del Cistia (guitarra e teclados), Dudu Portes (percussão), Natan Marques (violão) e Sizão Machado (baixo elétrico).

Boto (Porpoise)
Tom Jobim e Jararaca

Na praia de dentro tem areia
Na praia de fora tem o mar
Um boto casado com sereia
Navega num rio pelo mar

O corpo de um bicho deu na praia
E a alma perdida quer voltar
Caranguejo conversa com arraia
Marcando a viagem pelo ar

Ainda ontem vim de lá do Pilar
Ainda ontem vim de lá do Pilar
Já tô com vontade de ir por aí

Ontem vim de lá do Pilar
Ontem vim de lá do Pilar
Com vontade de ir por aí

Na ilha deserta o sol desmaia
Do alto do morro vê-se o mar
Papagaio discute com jandaia
Se o homem foi feito pra voar

Cristina, Cristina
Cristina, Cristina
Desperta, desperta
Desperta, desperta
Vem cá

ah - ah

(orquestra)

Inhambu cantou lá na floresta
E o velho jereba fêz-se ao ar
Sapo querendo entrar na festa
Viola pesada pra voar

Ainda ontem etc...
Ontem vim etc...

Camiranga urubu mestre do vento
Urubu caçador mestre do ar
Urutau cantando num lamento
Pra lua redonda navegar

Ainda ontem etc...
Ontem vim etc...

ah - ah

Na enseada negra vista em sonho
Dorme um veleiro sobre o mar
No espelho das aguas refletido
Navega um veleiro pelo ar

Áudio Tom Jobim e Miúcha (também aqui)



Áudio Elis Regina (também aqui)


Do Pilar (Do Pilá)


O compositor maceioense José Luis Rodrigues Calazans, mais conhecido como Jararaca, formava uma famosa dupla musical e humorística com Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho, desde os anos de 1920 até o início da década de 70; saiba mais sobre a dupla aqui. A música desta postagem chama-se Do Pilar (ou Do Pilá), uma cidade próxima de Maceió. A gravação mais antiga dessa composição é de 1948, um 78rpm de Jararaca, Augusto Calheiros e Zé do Bambo, e os três dividem a autoria (nem sempre creditada aos dois últimos). Já a versão apresentada aqui é de Renato Braz, lançada em seu disco História Antiga, de 1998, que conta com a participação de Dori Caymmi (violão e arranjo), Sizão Machado (baixo fretless), Teco Cardoso (flautas de bambu, de madeira e em sol) e Bré (pandeiro, queixada, caxixi e efeitos).    
Do Pilar (Do Pilá)
Jararaca, Augusto Calheiros e Zé do Bambo

Inda ontem vim de lá do Pilá
Já tô com vontade de ir por aí...

Encontrei Mané Vieira
No caminho de Santa Rita
Uma viola no peito
Que braço só era fita

Eita!
A estrela d'alva é tão bonita!

Indo eu fazê coivara
Comendo mé com beiju
Sartô-me um surucucu
Picô-me o pé e correu

Eita!
Ai, Jesus, que me mordeu!

Inda ontem vim de lá do Pilá
Já tô com vontade de ir por aí...

No caminho do sertão
Uma onça me roncô
Fugiu-me o sangue nas veia
E o coração palpitô

Eita!
Ai, meu deus, pra donde eu vô?!

Inda ontem vim de lá do Pilá
Já tô com vontade de ir por aí...

Áudio Renato Braz

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Casa



A Casa
Vinicius de Moraes

Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela, não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na rua dos bobos
Número zero

Vídeo Boca Livre

domingo, 15 de maio de 2011

Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê)


Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê)
Hyldon

Não estou disposto
A esquecer seu rosto de vez
E acho que é tão normal
Dizem que sou louco
Por eu ter um gosto assim
Gostar de quem não gosta de mim
Jogue suas mãos para o céu
E agradeça se acaso tiver
Alguém que você gostaria que
Estivesse sempre com você
Na rua, na chuva, na fazenda
Ou numa casinha de sapê

Áudio Hyldon

Casinha Branca

 

Casinha Branca
Gilson e Joran

Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que nem vejo a minha frente
Nada que me dê prazer
Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade
Tanto sonho perecer

Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer

Às vezes saio a caminhar pela cidade
À procura de amizades
Vou seguindo a multidão
Mas eu me retraio olhando em cada rosto
Cada um tem seu mistério
Seu sofrer, sua ilusão

Áudio Gilson

Casinha de Palha


Casinha de Palha
Godofredo Guedes

Eu moro
Numa casinha de palha
Que fica de trás da muralha
Daquela serra acolá

De longe ela nos parece
Arruinada
Mas de perto ela é juncada
De baunilha e manacá

Áudio Beto Guedes aqui

Casa no Campo



Casa no Campo
Zé Rodrix e Tavito

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais

Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal

Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais

Áudio Elis Regina



Áudio Zé Rodrix

Cuitelinho


Cuitelinho
Tema recolhido por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó

Cheguei na bera do porto
Onde as onda se espaia
As garça dá meia volta
E senta na bera da praia
E o cuitelinho não gosta
Que o botão de rosa caia ai

Ai quando eu vim de minha terra
Despedi da parentaia
Eu entrei no Mato Grosso
Dei em terras paraguaia
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes bataia ai

A tua saudade corta
Como o aço de navaia
O coração fica aflito
Bate uma, a otra faia
E os oio se enche d'água
Que até a vista se atrapaia ai

Áudio Nara Leão


sábado, 14 de maio de 2011

Matita Perê


ilustração de Paulo Jobim no encarte do disco Matita Perê, de Tom Jobim (1973)

Matita Perê
Tom Jobim e Paulo César Pinheiro

No jardim das rosas
De sonho e medo
Pelos canteiros de espinhos e flores
Lá, quero ver você
Olerê, Olará, você me pegar

Madrugada fria de estranho sonho
Acordou João, cachorro latia
João abriu a porta
O sonho existia

Que João fugisse
Que João partisse
Que João sumisse do mundo
De nem Deus achar, Ierê

Manhã noiteira de força viagem
Leva em dianteira um dia de vantagem
Folha de palmeira apaga a passagem
O chão, na palma da mão, o chão, o chão

E manhã redonda de pedras altas
Cruzou fronteira de servidão
Olerê, quero ver
Olerê

E por maus caminhos de toda sorte
Buscando a vida, encontrando a morte
Pela meia rosa do quadrante Norte
João, João

Um tal de Chico chamado Antônio
Num cavalo baio que era um burro velho
Que na barra fria já cruzado o rio
Lá vinha Matias cujo o nome é Pedro
Aliás Horácio, vulgo Simão
Lá um chamado Tião
Chamado João

Recebendo aviso entortou caminho
De Nor-Nordeste pra Norte-Norte
Na meia vida de adiadas mortes
Um estranho chamado João

No clarão das águas
No deserto negro
A perder mais nada
Corajoso medo
Lá quero ver você

Por sete caminhos de setenta sortes
Setecentas vidas e sete mil mortes
Esse um, João, João
E deu dia claro
E deu noite escura
E deu meia-noite no coração
Olerê, quero ver
Olerê

Passa sete serras
Passa cana brava
No brejo das almas
Tudo terminava
No caminho velho onde a lama trava
Lá no todo-fim-é-bom
Se acabou João

No Jardim das rosas
De sonho e medo
No clarão das águas
No deserto negro
Lá, quero ver você
Lerê, lará
Você me pegar

Áudio Tom Jobim (também aqui)

Sagarana



Sagarana
João de Aquino e Paulo César Pinheiro

A ver, no em-sido
Pelos campos-claro: estórias
Se deu-passado esse caso
Vivência e memórias
Nos gerais
A honra é-que-é-que se apraz
Cada quão
Sabia sua distrição
Vai que foi sobre
Esse era-uma-vez, ’sas passagens,
Em beira-riacho
Morava o casal: personagens
Personagens
Personagens
A mulher
Tinha o morenês que se quer
Verdeolhar
Dos verdes do verde invejar
Dentro lá deles
Diz-que existia outro gerais
Quem o qual,
Dono seu,
Esse era erroso, no à-ponto-de ser feliz demais
Ao que a vida,
No bem e no mal dividida,
Um dia ela dá o que faltou... ô, ô, ô...
É buriti
Buritizais
É o batuque corrido dos gerais
O que aprendi
O que aprenderás
Que nas veredas por em-redor sagarana
Uma coisa é o alto bom-buriti
Outra coisa é buritirana...
A pois, que houve,
No tempo das luas bonitas,
Um moço eveio:
– Viola enfeitada de fitas.
Vinha atrás
De uns dias pra descanso e paz
Galardão:
– Mississol-redó: Falanfão.
No-que: “– se abanque...”
Que ele deu nos óio o verdejo
Foi se afogando
Pensou que foi mar, foi desejo
Foi desejo
Foi desejo
Era ardor
Doidava de verde o verdor
E o rapaz
Quis logo querer os gerais
E a dona deles:
“– Que sim”, que ela disse, verdeal
Quem o qual,
Dono seu,
Vendo as olhâncias, no-avoo virou bicho-animal:
– Cresceu nas facas:
– O moço ficou sem ser macho
E a moça sem verde ficou ... ô, ô, ô
É buriti...
Quem quiser que cante outra
Mas à-moda dos gerais
Buriti: rei das veredas
Guimarães: buritizais!
Guimarães: buritizais!
Guimarães: buritizais!

Vídeo Clara Nunes

Sobradinho



Sobradinho
Sá e Guarabyra

O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar

O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão

Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir
Debaixo d'água lá se vai a vida inteira
Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir
Vai ter barragem no salto do Sobradinho
E o povo vai-se embora com medo de se afogar.

Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Pilão Arcado, Sobradinho
Adeus, Adeus ...

Áudio Sá e Guarabyra

Borzeguim



Borzeguim
Tom Jobim

Borzeguim, deixa as fraldas ao vento
E vem dançar
E vem dançar
Hoje é sexta-feira de manhã
Hoje é sexta-feira
Deixa o mato crescer em paz
Deixa o mato crescer
Deixa o mato
Não quero fogo, quero água
(Deixa o mato crescer em paz)
Não quero fogo, quero água
(Deixa o mato crescer)
Hoje é sexta-feira da paixão sexta-feira santa
Todo dia é dia de perdão
Todo dia é dia santo
Todo santo dia
Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia de folia
Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia
O chão no chão
O pé na pedra
O pé no céu
Deixa o tatu-bola no lugar
Deixa a capivara atravessar
Deixa a anta cruzar o ribeirão
Deixa o índio vivo no sertão
Deixa o índio vivo nu
Deixa o índio vivo
Deixa o índio
Deixa, deixa
Escuta o mato crescendo em paz
Escuta o mato crescendo
Escuta o mato
Escuta
Escuta o vento cantando no arvoredo
Passarim passarão no passaredo
Deixa a índia criar seu curumim
Vá embora daqui coisa ruim
Some logo
Vá embora
Em nome de Deus é fruta do mato
Borzeguim deixa as fraldas ao vento
E vem dançar
E vem dançar
O jacu já tá velho na fruteira
O lagarto teiú tá na soleira
Uirassu foi rever a cordilheira
Gavião grande é bicho sem fronteira
Cutucurim
Gavião-zão
Gavião-ão
Caapora do mato é capitão
Ele é dono da mata e do sertão
Caapora do mato é guardião
É vigia da mata e do sertão
(Yauaretê, Jaguaretê)
Deixa a onça viva na floresta
Deixa o peixe n'água que é uma festa
Deixa o índio vivo
Deixa o índio
Deixa
Deixa
Dizem que o sertão vai virar mar
Diz que o mar vai virar sertão
Deixa o índio
Dizem que o mar vai virar sertão
Diz que o sertão vai virar mar
Deixa o índio
Deixa
Deixa

Vídeo Tom Jobim (voz e piano), Jaques Morelenbaum (violoncelo), Paulo Jobim (teclado), Danilo Caymmi (voz e flauta), Sebastião Neto (baixo) e Paulo Braga (bateria), com o vocal de Ana Jobim, Elizabeth Jobim, Simone Caymmi, Maúcha Adnet e Paula Morelenbaum

Romaria

Romaria
Renato Teixeira

É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido
Em pensamentos
Sobre o meu cavalo

É de laço e de nó
De jibeira o jiló
Dessa vida
Cumprida a só

Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
Meus irmãos
Perderam-se na vida
À custa de aventuras

Descasei, joguei
Investi, desisti
Se há sorte
Eu não sei, nunca vi

Sou caipira, Pirapora...

Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Pra pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos

Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar
Meu olhar

Sou caipira, pirapora...

Vídeo Elis Regina

Fazenda


Fazenda
Nelson Angelo

Água de beber
Bica no quintal
Sede de viver tudo
E o esquecer
Era tão normal que o tempo parava
E a meninada respirava o vento
Até vir a noite e os velhos falavam coisas dessa vida
Eu era criança, hoje é você, e no amanhã, nós

Água de beber
Bica no quintal
Sede de viver tudo
E o esquecer
Era tão normal que o tempo parava
Tinha sabiá, tinha laranjeira, tinha manga rosa
Tinha o sol da manhã
E na despedida,
Tios na varanda, jipe na estrada
E o coração lá

Áudio Milton Nascimento

Da Fazenda

 My morning farm by Rory Adityawan

Da Fazenda
Fatima Guedes

Foi pra respirar orvalho ainda
Que eu puxei da cama bem cedo.
Pra molhar os pés no pasto úmido,
Pra molhar os pés no pasto úmido.

Pra seguir na trilha dos currais,
O cheiro dos bichos no vento,
O cheiro da terra na manhã dos animais,
Pela trilha afora, pelo mato adentro.

Eu ia pelo mato me arranhando o peito
Colhendo umas coisas pra poder levar
Pra minha casa.

A roça de algodão,
Os moleques correndo, bodoque e pião,
O riacho ali logo,
Um fruto temporão
E o ar de lá.

Áudio Fatima Guedes aqui

Sertaneja



Sertaneja
Ivan Lins e Vitor Martins

Êta saudade brava
Rondando meu coração,
Sempre apertando o cerco
Do laço no cinturão.

Sempre esquentando fogo
Pras festas de São João,
Sempre jogando água
Nos olhos desse peão.

Dá meu chapéu de palha,
Minhas esporas,
O meu cavalo
Que eu vou-me embora
Abre as porteiras,
Destranca esse sertão.

Êta saudade brava
Rondando meu coração,
Sempre voando baixo
Com garras de gavião.

Cheia de armadilhas
Tocaias e alçapão,
Pra me prega de jeito
À força outra lição.

Áudio Ivan Lins

terça-feira, 10 de maio de 2011

Sertaneja


Sertaneja
René Bittencourt

Sertaneja se eu pudesse
Se papai do céu me desse
O espaço pra voar
Eu corria a natureza
E acabava com a tristeza
Só pra não te ver chorar
Na ilusão desse poema
Eu roubava um diadema
Lá do céu pra te ofertar
E onde a fonte murmureja
Eu erguia tua igreja
Dentro dela o teu altar
Sertaneja
Por que choras quando eu canto?
Sertaneja
Se esse canto é todo teu
Sertaneja
Pra secar os teus olhinhos
Vai ouvir os passarinhos
Que cantam mais do que eu
A tristeza do meu pranto
É mais triste quando eu canto
A canção que eu te escrevi
E os teus olhos neste instante
Brilham mais que a mais brilhante
Das estrelas que eu já vi
Sertaneja, vou-me embora
A saudade vem agora
Alegria vem depois
Vou subir por essas serras
Construir lá em outras terras
Um ranchinho pra nós dois

Áudio Tetê Espíndola (voz e craviola) e Almir Sater (viola)



Áudio Orlando Silva

Tocando em Frente


Tocando em Frente
Almir Sater e Renato Teixeira

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Áudio Almir Sater



Áudio Renato Teixeira



Áudio Maria Bethânia

domingo, 8 de maio de 2011

Para Lennon e McCartney


Imagem capturada do site Museu Clube da Esquina (clique para ampliar)

Os quadrinhos acima são de Laudo Ferreira Jr. (texto e desenhos), com colaboração de Omar Viñole (cor e arte final), e contam a história do Clube da Esquina tendo como referência o livro Os Sonhos Não Envelhecem, de Márcio Borges. Na história acima, é contada como surgiu a composição Para Lennon e McCartney. Até me deu uma vontade de comer macarronada hehehe. Para visualizar outras histórias do Clube, clique aqui.  

Para Lennon e McCartney
Lô Borges, Fernando Brant e Márcio Borges

Porque vocês não sabem
Do lixo ocidental
Não precisa medo, não
Não precisa da timidez
Todo dia é dia de viver

Porque você não verá
Meu lado ocidental
Não precisa medo, não
Não precisa da solidão
Todo dia é dia de viver

Eu sou da América do Sul
Eu sei, vocês nem vão saber
Mas agora sou cowboy
Sou do ouro, eu sou vocês
Sou o mundo, sou Minas Gerais

Porque você não verá
Meu lado ocidental
Não precisa mais temer
Não precisa da timidez
Todo dia é dia de viver

Vídeo Lô Borges



Vídeo Milton Nascimento



Áudio Elis Regina

Tudo Que Você Podia Ser



Tudo Que Você Podia Ser
Lô Borges e Márcio Borges

Com sol e chuva você sonhava
Que ia ser melhor depois
Você queria ser o grande herói das estradas
Tudo que você queria ser
Sei um segredo você tem medo
Só pensa agora em voltar
Não fala mais na bota e do anel de Zapata
Tudo que você devia ser sem medo
E não se lembra mais de mim
Você não quis deixar que eu falasse de tudo
Tudo que você podia ser na estrada
Ah! Sol e chuva na sua estrada
Mas não importa não faz mal
Você ainda pensa e é melhor do que nada
Tudo que você consegue ser ou nada
Não importa não faz mal
Você ainda pensa e é melhor do que nada
Tudo o que você consegue ser ou nada

Áudio Milton Nascimento

Um Girassol da Cor de Seu Cabelo


Um Girassol da Cor de Seu Cabelo
Lô Borges e Márcio Borges

Vento solar e estrelas do mar
A terra azul da cor do seu vestido
Vento solar e estrelas do mar
Você ainda quer morar comigo

Se eu cantar não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?

Sol, girassol, verde, vento solar
Você ainda quer dançar comigo
Vento solar e estrelas do mar
Um girassol da cor de seu cabelo

Se eu morrer não chore não
É só a lua
É seu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua
Como vai você?
Você vem?
Ou será que é tarde demais?

O meu pensamento tem a cor de seu vestido
Ou um girassol que tem a cor de seu cabelo?

Áudio e vídeo Lô Borges



Vento de Maio



Vento de Maio
Telo Borges e Márcio Borges

Vento de raio
Rainha de maio
Estrela cadente

Chegou de repente
O fim da viagem
Agora já não dá mais
Pra voltar atrás

Rainha de maio
Valeu o teu pique
Apenas para chover
No meu pique-nique

Assim meu sapato
Coberto de barro
Apenas pra não parar
Nem voltar atrás

Rainha de maio
Valeu a viagem
Agora já não dá mais...

Nisso eu escuto no rádio do carro a nossa canção
(Vento solar e estrelas do mar)*
Sol girassol e meus olhos ardendo de tanto cigarro
E quase que eu me esqueci que o tempo não para nem vai esperar

Vento de maio
Rainha dos raios de sol
Vá no teu pique
Estrela cadente até nunca mais
Não te maltrates
Nem tentes voltar o que não tem mais vez

Nem lembro teu nome nem sei
Estrela qualquer lá no fundo do mar
Vento de maio rainha dos raios de sol

Rainha de maio...

*Trecho de Um Girassol da Cor de Seu Cabelo de Lô Borges e Márcio Borges com Lô Borges

Áudio Elis Regina

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Tiro de Misericórdia

 Ilustrações de Mello Menezes

Outro retrato pungente da infância na música popular é sem dúvida uma das obras-primas da dupla João Bosco e Aldir Blanc: Tiro de Misericórdia, lançada em álbum homônimo de João no ano de 1977. A capa e contracapa desse disco - surpreendentemente ainda inédito em CD - estão reproduzidas acima.

Tiro de Misericórdia
João Bosco e Aldir Blanc

O menino cresceu entra a ronda e a cana
Correndo nos beco que nem ratazana.
Entre a punga e o afano, entre a carta e a ficha
Subindo em pedreira que nem lagartixa.
Borel, juramento, urubu, catacumba,
Nas roda de samba, no eró da macumba.
Matriz, querosene, salgueiro, turano,
Mangueira, são carlo, menino mandando,
Ídolo de poeira, marafo e farelo,
Um deus de bermuda e pé-de-chinelo,
Imperador dos morro, reizinho nagô,
O corpo fechado por babalaôs.

Baixou oxolufã com as espadas de prata,
Com sua coroa de escuro e de vício.
Baixou caô-xangô com o machado de asa,
Com seu fogo brabo nas mãos de corisco.
Ogunhê se plantou pelas encruzilhadas
Com todos seus ferros, com lança e enxada.
E oxossi com seu arco e flecha e seus galos
E suas abelhas na beira da mata.
E oxum trouxe pedra e água da cachoeira
Em seu coração de espinhos dourados.
Iemanjá, o alumínio, as sereias do mar
E um batalhão de mil afogados
Iansã trouxe as almas e os vendavais,
Adagas e ventos, trovões e punhais.
Oxum-maré largou suas cobras no chão.
Soltou sua trança, quebrou o arco-íris.
Omulu trouxe o chumbo e o chocalho de guizos
Lançando a doença pra seus inimigos.
E nanã-buruquê trouxe a chuva e a vassoura
Pra terra dos corpos, pro sangue dos mortos.

Exus na capa da noite soltaram a gargalhada
E avisaram a cilada pros orixás.
Exus, orixás, menino, lutaram como puderam
Mas era muita matraca pra pouco berro.
E lá no horto maldito, no chão do pendura-saia,
Zambi menino lumumba tomba na raia
Mandando bala pra baixo contra as falanges do mal,
Arcanjos velhos, coveiros do carnaval.

– Irmãos , irmãs, irmãozinhos,
   por que me abandonaram?
   por que nos abandonamos
   em cada cruz?
– Irmãos , irmãs, irmãozinhos,
   nem tudo está consumado.
   a minha morte é só uma:
   ganga, lumumba, lorca, jesus...

Grampearam o menino do corpo fechado
E barbarizaram com mais de cem tiros.
Treze anos de vida sem misericórdia
E a misericórdia no último tiro.
Morreu como um cachorro e gritou feito um porco
Depois de pular igual a macaco.
Vou jogar nesses três que nem ele morreu:
Num jogo cercado pelos sete lados.

Áudio e vídeo João Bosco



Menino

Criança Morta de Candido Portinari (1944)

Agora o retrato do menino é de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. Lançada no disco Geraes de 1976, foi também gravada por Elis Regina em seu álbum duplo Saudade do Brasil, de 1980. 


Menino
Milton Nascimento e Ronaldo Bastos

Quem cala sobre teu corpo
Consente na tua morte
Talhada a ferro e fogo
Nas profundezas do corte
Que a bala riscou no peito
Quem cala morre contigo
Mais morto que estás agora
Relógio no chão da praça
Batendo, avisando a hora
Que a raiva traçou
No incêndio repetido
O brilho do teu cabelo
Quem grita vive contigo

Áudio Milton Nascimento



Vídeo Elis Regina

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Brejo da Cruz


Do disco Chico Buarque, de 1984, Brejo da Cruz é outro retrato super atual da criança no cancioneiro da música popular no Brasil. Aqui Chico amplia o retrato revelando a diversidade de "milhões desses seres que se disfarçam tão bem", que um dia já foram as crianças do Brejo da Cruz - embora não se lembrem dele.   

Brejo da Cruz
Chico Buarque

A novidade
Que tem no Brejo da Cruz
É a criançada
Se alimentar de luz

Alucinados
Meninos ficando azuis
E desencarnando
Lá no Brejo da Cruz

Eletrizados
Cruzam os céus do Brasil
Na rodoviária
Assumem formas mil

Uns vendem fumo
Tem uns que viram Jesus
Muito sanfoneiro
Cego tocando blues

Uns têm saudade
E dançam maracatus
Uns atiram pedra
Outros passeiam nus

Mas há milhões desses seres
Que se disfarçam tão bem
Que ninguém pergunta
De onde essa gente vem

São jardineiros
Guardas noturnos, casais
São passageiros
Bombeiros e babás

Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz

São faxineiros
Balançam nas construções
São bilheteiras
Baleiros e garçons

Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz

Áudio Chico Buarque (também aqui)

O Meu Guri


O Meu Guri, de Chico Buarque, foi lançada em seu álbum Almanaque, de 1981. Novamente o desenho mágico do mestre, o retrato do seu guri por sua mãe. Chocante!

O Meu Guri
Chico Buarque

Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Pra lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Pra me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Pra enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Práafinalmente
Eu me identificar
Olha aí!

Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Pra ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!

Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...

Áudio Chico Buarque

Pivete


Eis o segundo retrato da série infância na música popular, e se chama Pivete, de Francis Hime e Chico Buarque. Este a gravou em dois de seus discos de carreira: Chico Buarque, de 1978, e Paratodos, de 1993. Aqui o Pivete apronta vários de seus pequenos delitos, e o cenário da cidade Rio de Janeiro é apresentado conforme o deslocamento no nosso protagonista. Na segunda versão da música, Chico atualizou o perfil do Pivete, agora plurilíngue: "monsieur have money per mangiare", e trocou Emersão por Airtão, referência aos pilotos Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna.  

Pivete
Francis Hime e Chico Buarque

(Monsieur have money per mangiare)

No sinal fechado
Ele vende chiclete
Capricha na flanela
E se chama Pelé
Pinta na janela
Batalha algum trocado
Aponta um canivete
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Sobe o Borel
Meio se maloca
Agita numa boca
Descola uma mutuca
E um papel
Sonha aquela mina, olerê
Prancha, parafina, olará
Dorme gente fina
Acorda pinel
Zanza na sarjeta
Fatura uma besteira
E tem as pernas tortas
E se chama Mané
Arromba uma porta
Faz ligação direta
Engata uma primeira
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Na contramão
Dança para-lama
Já era para-choque
Agora ele se chama
Emersão (Airtão)
Sobe no passeio, olerê
Pega no Recreio, olará
Não se liga em freio
Nem direção

No sinal fechado
Ele transa chiclete
E se chama pivete
E pinta na janela
Capricha na flanela
Descola uma bereta
Batalha na sarjeta
E tem as pernas tortas

Áudio Chico Buarque (1978)



Vídeo Chico Buarque (1993)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Moleque

Foto: Wilton Montenegro 

Esta postagem inicia um novo tema: retratos da infância na música popular. Hoje apresento Moleque, do saudoso Gonzaguinha, que nos deixou há 20 anos, embora esteja sempre presente todo dia, toda hora em suas músicas sempre tão inspiradas e inspiradoras. A ideia desse tema surgiu a partir da foto acima, do encarte do disco Moleque Gonzaguinha, de 1977. Me lembrei que há também outras canções muito interessantes que retratam a situação de muitas crianças, no panorama daquela época, o que já prenunciava - infelizmente - o nosso tempo hoje. O vídeo com Gonzaguinha postado aqui é provavelmente do V Festival da Música Popular Brasileira, veiculado pela TV Record em 1969, cuja seleção de 12 finalistas - incluindo a vencedora Sinal Fechado, de Paulinho da Viola - foi lançada em LP no mesmo ano (por razões contratuais, no disco Paulinho não pôde participar e Sinal Fechado foi então interpretada pelo MPB-4). Gonzaguinha também lançaria essa música, como novo arranjo, em seu álbum de estreia, de 1973, e no disco de 1977 já citado.


Moleque
Gonzaguinha

No tiro, estilingue, bodoque
O teco, o toque, o coque
No quengo, na cuca, cabeça
De qualquer caraça avessa
Qualquer carantonha fechada
Azeda de feia zangada
Que mexa, chateia, me bula
Pra ver quanto alto sapo pula
Pedra vai levar.

Ah! Moleque, se um dia eu te pego
Erva daninha, estrepe
De ripa, marmelo te esfrego
Moleque, vem cá
Moleque, moleque, vem cá
Moleque
Ah! Não, não eu não vou lá.
Vem me pegar, quero ver.

De mão, de pé, pau cajado
No tapa, na briga me acabo
Revolvo, reviro, decido
E mesmo no ganho ou perdido
Me amigo ao amigo inimigo,
Me livro do mal e do perigo
De bicho pelado que trança
Ideias de uma vingança,
Que é pra me cuidar

Ah! Moleque, se um dia eu te pego...

Fruto gostoso, desejado
Lua, vizinho, cuidado,
Cercadura, arame rela
Rosto, rosa, luz, janela
Siu, assovio, voz rouca,
Beijo estalado na boca
Depois a corrida abraçado
No peito o gosto de um amor roubado
Que é só pra provar.

Ah! Moleque, se um dia eu te pego...

No medo, não tremo, não corro
Avanço, me lanço, estouro
Valente, eito combato
E ao mesmo tempo me trato
Covarde na sabedoria
Que ergue, cresce, se cria
Só na hora boa e precisa
E corta o mal bem onde enraíza
Que é pra não voltar.

Ah! Moleque, se um dia eu te pego...

Vídeo Gonzaguinha

domingo, 1 de maio de 2011

Carinhoso


Carinhoso, de Pixinguinha, dispensa apresentações. É simplesmente o clássico do clássico do choro. Composta em 1917, levou mais de dez anos para chegar ao disco sendo gravada pela Orquestra Típica Pixinguinha-Donga em 1928, gravação postada aqui. Ao belo tema musical foi acrescentada a letra de Braguinha em 1937, sendo então gravada por Orlando Silva, que tornou a canção um grande sucesso. Também apresento nesta postagem a gravação do cantor das multidões.

Carinhoso
Pixinguinha

Instrumental

Áudio Orquestra Típica Pixinguinha-Donga (também aqui)



Carinhoso
Pixinguinha e Braguinha

Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim.

Ah se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero.
E como é sincero o meu amor,
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.

Vem, vem, vem, vem,
Vem sentir o calor dos lábios meus
À procura dos teus.
Vem matar essa paixão
Que me devora o coração
E só assim então serei feliz,
Bem feliz.

Áudio Orlando Silva