quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sete-Violas


Poema de Paulo César Pinheiro musicado por Theo de Barros (site aqui), Sete-Violas está no disco Theo (2006), do compositor, instrumentista, cantor e arranjador carioca Theo de Barros e conta com a participação de vários intérpretes, nesta ordem de entrada (que é diferente do poema apresentado abaixo): Renato Braz (Viola de primitivo); Mônica Salmaso (Viola de caipira); Ana Luiza de Barros (Viola de marinheiro); Ricardo Barros e Theo de Barros (Viola de capoeira); Cidinha Souza, Ringo Alves, Carlinhos Souza e Tatiana Parra (Viola de sertanejo); novamente Renato Braz (Viola de nordestino); Cidinha Souza, Ringo Alves, Carlinhos Souza e Tatiana Parra (Viola de fitas). E na gravação também estão os seguintes instrumentistas: Theo de Barros (violão), Heraldo do Monte (viola caipira), Léa Freire (flauta), Teco Cardoso (flautas), Nailor Azevedo "Proveta" (clarinete), Mário Rocha (trompa), Arismar do Espirito Santo (baixo), Tibô Delor (baixo acústico), Toninho Ferragutti (acordeon), Caíto Marcondes (percussão) e cordas da OSESP.

Sete-Violas
Poema de Paulo César Pinheiro musicado por Theo de Barros

Viola de sertanejo,
Quando ela entra em torneio,
Parece que o seu manejo
Nas outras causa receio.
Se a corda parte no meio
Ela não perde o molejo,
O vento faz o ponteio
E a brisa faz o harpejo.
E ela acompanha o motejo
Fazendo mais um floreio,
Usando o som do trastejo
Pro dengue do balanceio.

Viola de caipira
Quando entra num desafio,
A corda vira e revira
Que nem um curso de rio.
Parece um bicho no cio
Em cada som que ela tira,
Que quem não tem sangue frio
Desse cordel se retira.
Baixa o seu Sete-da-Lira
No violeiro vadio,
Que quando acaba a catira
É o dono do mulherio.

Viola cheia de fitas,
Que tem as cordas de aço,
Amarra as moças bonitas
Com as fitas que tem no braço
Depois de presas no laço,
Marias, Rosas e Ritas,
Pra todas tem um pedaço,
Pois todas são favoritas.
São como as notas escritas,
Tem muitas em cada traço,
Mas todas ganham visitas
Dentro do mesmo compasso.

Viola de nordestino,
É dela o som mais ferido,
Parece um toque de sino
Prum retirante caído.
O bojo é pau retorcido
Cortado no sol a pino,
Por isso o som é um gemido
De pedra e pó, seco e fino.
Cravelha de osso bovino,
Bordão de couro curtido,
Quem toca faz seu destino
No chão da cobra-de-vidro.

Viola de marinheiro
Tem braço de viramundo,
E assim vira o mundo inteiro
Tirando o som lá do fundo.
Em roda de vagabundo
Ela é quem fala primeiro,
Ninguém quer ser o segundo,
Segundo o rei do terreiro,
Quem diz que não tem dinheiro
Que pague um canto profundo
De quem cantou, companheiro,
Nos quatro cantos do mundo.

Viola de primitivo,
Do mato se desenterra,
E tem o som instintivo
Que nem do boi quando berra,
Que nem do galo-da-serra,
Que nem de tudo que é vivo,
Só toca em campo de guerra
Se for pra não ser cativo.
E assim, por esse motivo,
Seu canto quando se encerra
Acorda o canto nativo
Do coração dessa Terra.

Viola de capoeira
Que roda em beira-de-praia,
Seu tampo é pau-de-aroeira,
Quem toca é da mesma laia.
Na roda que tem tocaia
Viola roda a bandeira,
Sai dando rabo-de-arraia,
Pernada, tapa e rasteira.
Não tomba em roda guerreira,
Não foge nunca da raia,
Só cai no chão da poeira
Se for em roda-de-saia.

Áudio Theo de Barros e vários intérpretes

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