segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O Surdo


Um amigo me contou que participou de algumas rodas de samba pela Grande São Paulo mês passado. Segundo ele há muitas semelhanças com as rodas daqui em Floripa, mas uma diferença que ele percebeu foi a ausência de instrumentos de percussão graves como o surdo. Depois de um tour de alguns dias por aquelas bandas, somente na despedida foi feita uma festa em que havia um surdo e, para o deleite dele, finalmente a roda estava completa. Aí me lembrei de duas coisas. A primeira é que de tão "acostumado" com as rodas de samba e choro pelaqui, o relato dele me fez sentir que - pode parecer absurdo - até agora eu estava meio que surdo ao surdo, ouviram? Já a segunda boa lembrança foi justamente o samba de Totonho e Paulinho Rezende, interpretado pela Marrom, Alcione, que nos apresenta lindamente esse personagem: Não deixe que eu vencido de cansaço / Me descuide desse abraço / E desfaça o compasso do passo do meu coração...

O Surdo
Totonho e Paulinho Rezende

Amigo, que ironia desta vida
Você chora na avenida
Pro meu povo se alegrar
Eu bato forte em você
E aqui dentro do peito uma dor
Me destrói
Mas você me entende
E diz que pancada de amor não dói

Meu surdo, parece absurdo
Mas você me escuta
Bem mais que os amigos lá do bar
Não deixa que a dor
Mais me machuque
Pois pelo seu batuque
Eu dou fim ao meu pranto e começo a cantar
Meu surdo bato forte no seu couro
Só escuto este teu choro
Que os aplausos vêm pra consolar

Meu surdo, velho amigo e companheiro
Da avenida e de terreiro,
De rodas de samba e de solidão
Não deixe que eu vencido de cansaço
Me descuide desse abraço
E desfaça o compasso do passo do meu coração

Áudio Alcione

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