quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Viena Fica na 28 de Setembro
Elis Regina: 30 anos depois...
Sem dúvida uma das melhores duplas reveladas por Elis foi João Bosco e Aldir Blanc. No mesmo ano da morte da cantora, os compositores fizeram uma homenagem a ela e a outros nomes da música brasileira na inspirada Viena Fica na 28 de Setembro, lançada no disco de João intitulado Comissão de Frente, de 1982, com a participação, além do músico mineiro (voz, violão e arranjo), do ex-marido e arranjador dos discos de Elis nos anos 1970, Cesar Camargo Mariano (Prophet V, piano Fender Rhodes, Arp Strings e arranjo).
Vale lembrar que 28 de Setembro se refere ao boulevard de mesmo nome localizado em Vila Isabel, morada no Rio de Janeiro de ilustres compositores como Noel Rosa, Orestes Barbosa, João de Barro, Almirante e, mais recentemente, Martinho da Vila, além do próprio Aldir Blanc. As calçadas do Boulevard 28 de Setembro são decoradas com pedras portuguesas representando partituras de músicas brasileiras. Coube a Almirante nos anos 1960 fazer a seleção das músicas: Cidade Maravilhosa (André Filho) - esta primeira ainda na Praça Maracanã -, O Abre Alas (Chiquinha Gonzaga), Pelo Telefone (Donga e Mauro de Almeida), Mal-Me-Quer (Cristóvão de Alencar, Armando Reis e Newton Teixeira), Feitiço da Vila (Noel Rosa e Vadico), Ave Maria (Ertildes Campos e Jonas Neves), Aquarela do Brasil (Ary Barroso), Jura (Sinhô), Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro), Linda Flor (Henrique Vogeler e Luís Peixoto), A Conquista do Ar (Eduardo das Neves), Luar do Sertão (Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco), Chão de Estrelas (Orestes Barbosa e Sílvio Caldas), Linda Morena (Lamartine Babo), A Voz do Violão (Francisco Alves e Horácio Campos), Na Pavuna (Homero Dornellas e Almirante), Primavera do Rio (João de Barro e Ernesto Nazareth), Apanhei-te Cavaquinho (Ernesto Nazareth), Florisbela (Nássara e Frazão) e Renascer das Cinzas (Martinho da Vila) - esta última já na Praça Barão de Drummond.
Viena Fica na 28 de Setembro
João Bosco e Aldir Blanc
Morre a luz da noite
O porre acende pra me iluminar
numa outra cena...
Zune o vento e valsam os oitis
no velho boulevard:
bosques de Viena!
Escrevo carta a uma desconhecida
Com quem tive um flerte, um anjo azul...
Pobres balconistas de paquete, de ar infeliz
são novas Bovarys...
Já perdi o expresso do oriente
onde sempre sou
vítima e assassino...
Tomo a carruagem e o cocheiro
de tabela dois
diz que é vascaíno...
Ah, triste figura, Don Quixote
quer mais um traçado
– cadê o Sancho?
Dá pro santo, bebe, e o passado
volta a desfilar,
pierrô de marcha-rancho:
...com as broncas do Ary Barroso, sem elas...
...com a bossa do Ciro Monteiro, sem ela...
...com o copo cheio de Vinícius, sem ele...
...com nervos de aço Lupicínio, sem eles...
...com as mãos do Antonio Maria, sem elas...
...com a voz do Lamartine Babo, sem ela...
...com a rosa Dolores Duran, sem ela...
...com a majestade da Elis, sem ela...
Áudio João Bosco e Cesar Camargo Mariano
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