quinta-feira, 31 de março de 2011

Puleiro dos Anjos


Do primeiro álbum do Grupo Engenho, Vou Botá Meu Boi na Rua, esta composição instrumental de Alisson Motta é sem dúvida uma das minhas favoritas do quinteto. A foto acima foi surrupiada do blog do Trio do Engenho, onde também há um texto do Alisson sobre essa música, ver aqui

Puleiro dos Anjos
Alisson Mota

Instrumental

Formação do Grupo Engenho no disco Vou Botá Meu Boi na Rua: Alisson Mota (Violão, Violão 12, Cavabandorango); Chico Thives (Bateria, Percussão, Violão, Baixo); Cláudio Frazê (Percussão); Cristaldo Souza (Sanfona) e Marcelo Muniz (Baixo, Piano, Bandolim, Violão).

Áudio Grupo Engenho

quarta-feira, 30 de março de 2011

Domingo no Parque



Hoje assisti o documentário Uma Noite em 67, dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil, sobre a noite da finalíssima do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em outubro de 1967. Várias cenas, apresentações e entrevistas interessantes, mas gostei mesmo foi do depoimento do Giberto Gil sobre Refazenda (cuja letra, áudio e vídeo estão no post seguinte). Já no festival, Gil (em apresentação com Os Mutantes e orquestra) tirou em segundo lugar com a ótima Domingo no Parque, música desta postagem (em primeiro ficou Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, ver aqui). Por outro lado, não gostei do depoimento do mesmo Gilberto Gil tirando o dele da reta e pondo no da Elis Regina a respeito do famigerado episódio da passeata contra as guitarras elétricas. Fica fácil, né, colocar a responsabilidade em alguém sem pelo menos direito de defesa: Elis está morta. Também senti falta de qualquer menção à participação da Pimentinha nessa noite de 67 em que defendeu - levando o prêmio de melhor intérprete - O Cantador, de Dori Caymmi e Nelson Motta, este sim com direito a depoimento em que fala, dentre outras coisas, de sua sua participação como concorrente. Vale lembrar, enfim, que a imagem da apresentação de Elis interpretando O Cantador no festival é facilmente encontrável na internet, já merecendo inclusive uma postagem aqui.


Domingo no Parque
Gilberto Gil

O rei da brincadeira
Ê, José!
O rei da confusão
Ê, João!
Um trabalhava na feira
Ê, José!
Outro na construção
Ê, João!...

A semana passada
No fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde
Saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar
Capoeira!
Não foi pra lá
Pra Ribeira, foi namorar...

O José como sempre
No fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo
Um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio...

Foi no parque
Que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu
Foi que ele viu Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João...

O espinho da rosa feriu Zé
(Feriu Zé!) (Feriu Zé!)
E o sorvete gelou seu coração
O sorvete e a rosa
Ô, José!
A rosa e o sorvete
Ô, José!
Foi dançando no peito
Ô, José!
Do José brincalhão
Ô, José!...

O sorvete e a rosa
Ô, José!
A rosa e o sorvete
Ô, José!
Oi girando na mente
Ô, José!
Do José brincalhão
Ô, José!...

Juliana girando
Oi girando!
Oi, na roda gigante
Oi, girando!
Oi, na roda gigante
Oi, girando!
O amigo João (João)...

O sorvete é morango
É vermelho!
Oi, girando e a rosa
É vermelha!
Oi girando, girando
É vermelha!
Oi, girando, girando...

Olha a faca! (Olha a faca!)
Olha o sangue na mão
Ê, José!
Juliana no chão
Ê, José!
Outro corpo caído
Ê, José!
Seu amigo João
Ê, José!...

Amanhã não tem feira
Ê, José!
Não tem mais construção
Ê, João!
Não tem mais brincadeira
Ê, José!
Não tem mais confusão
Ê, João!...

Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!...

Vídeo Gilberto Gil, Os Mutantes & Orquestra

Refazenda




Refazenda
Gilberto Gil

Abacateiro acataremos teu ato
Nós também somos do mato como o pato e o leão
Aguardaremos brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração
Abacateiro teu recolhimento é justamente
O significado da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também
Abacateiro serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário da leveza pelo ar
Abacateiro saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba

Áudio Gilberto Gil



Vídeo Gilberto Gil

terça-feira, 29 de março de 2011

Pobre Morro



Participação da cantora florianopolitana Neide Maria Rosa - ou Neide Mariarrosa - (1936-1994) no LP Isto É Musicanossa!, de 1968 (detalhes sobre o disco ver em comentários a este post; detalhes sobre o movimento Musicanossa ver aqui). 


Pobre Morro
Gilberto Barcellos

Morro!
Tu és esquecido quase o ano inteiro
Morro!
Ah! se não fosse o carnaval de fevereiro

Morro!
Onde o sambista leva a sério o compromisso
De pela escola desfilar
E trazer para a glória da tua favela o primeiro lugar

- Deixe o morro cantar!

Toda tristeza se esvai na alegria
De ver teu sonho transformado em realidade
Nem com tão simples trabalhador da cidade
Agora artista deslumbrando a sociedade
É carnaval, ele é destaque
Da plateia internacional
Mostrando em cores, encanto, luxo e riqueza
Toda a magia do samba
Nasci lá no morro com tua pobreza
Ah, morro!

Baixe a dissertação de mestrado em Teatro (Udesc, 2010) intitulada Neide Maria Rosa (Mariarrosa): uma (bio)grafia entre Neides, Marias e Rosas, de Vívian de Camargo Coronato, aqui

Documentário Ah! Que Saudades da Neide! (TCC do curso de Jornalismo da UFSC, 2008, de Fernanda Peres e Taise de Queiroz Bertoldi): assista partes 1, 2 e 3.

Áudio Neide Maria Rosa (Mariarrosa)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Mulher, Eu Sei



Mulher, Eu Sei
Chico César

Eu sei como pisar
No coração de uma mulher
Já fui mulher, eu sei
Já fui mulher, eu sei

Para pisar no coração de uma mulher
Basta calçar um coturno
Com os pés de anjo noturno
Para pisar no coração de uma mulher
Sapatilhas de arame
O balé belo infame

Para pisar no coração de uma mulher
Alpercatas de aço
O amoroso cangaço
Para pisar no coração de uma mulher
Pés descalços sem pele
Um passo que a revele

Áudio Chico César

Condenados


 Condenados
Fatima Guedes

Ah, meu amor, estamos condenados
Nós já podemos dizer que somos um
Nós somos um
E nessa fase do amor em que se é um
É que perdemos a metade cada um

Ah, meu amor, estamos mais safados
Hoje tiramos mais proveito do prazer
E somos um
Quando dormimos juntos, sonhos separados
Que nós não vamos confessar de modo algum

Ah, meu amor, ah, meu amor
Quantas pequenas traições
Pobres mentiras diplomáticas de puras intenções
Estamos condenados

Ah, meu amor, de discretos pecados
Formamos esse ser tão uno divisível
Parece incrível
Que nós tentemos que ele dure eternamente
Nessas metades incompletas
Mas descentes

Áudio Fatima Guedes

domingo, 27 de março de 2011

Pra Que Mentir? - Dom de Iludir



Diálogo entre as canções de Noel Rosa e Vadico e de Caetano Veloso na interpretação de Paulinho da Viola e Gal Costa.

Pra Que Mentir?
Noel Rosa e Vadico

Pra que mentir se tu ainda não tens
Esse dom de saber iludir?
Pra quê?! Pra que mentir
Se não há necessidade de me trair?
Pra que mentir, se tu ainda não tens
A malícia de toda mulher?
Pra que mentir
se eu sei que gostas de outro
Que te diz que não te quer?
Pra que mentir
Tanto assim
Se tu sabes que eu já sei
Que tu não gostas de mim?!
Se tu sabes que eu te quero
Apesar de ser traído
Pelo teu ódio sincero
Ou por teu amor fingido?!

Áudio Paulinho da Viola



Dom de Iludir
Caetano Veloso

Não me venha falar
Na malícia de toda mulher
Cada um sabe a dor
E a delícia
De ser o que é
Não me olhe
Como se a polícia
Andasse atrás de mim
Cale a boca
E não cale na boca
Notícia ruim
Você sabe explicar
Você sabe
Entender tudo bem
Você está
Você é
Você faz
Você quer
Você tem
Você diz a verdade
A verdade é o seu dom
De iludir
Como pode querer
Que a mulher
Vá viver sem mentir

Áudio Gal Costa

sábado, 26 de março de 2011

Língua



Língua
Caetano Veloso

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Hollanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé e Arrigo Barnabé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Incrível, é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe esta camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!

Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem

Áudio Caetano Veloso & Elza Soares



Vídeo Caetano Veloso

Tigresa



Tigresa
Caetano Veloso

Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel
Uma mulher, uma beleza que me aconteceu
Esfregando a pele de ouro marrom
Do seu corpo contra o meu
Me falou que o mal é bom e o bem, cruel

Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateu
Ela me conta sem certeza tudo o que viveu
Que gostava de política em mil novecentos e sessenta e seis
E hoje dança no Frenetic Dancin' Days

Ela me conta que era atriz e trabalhou no Hair
Com alguns homens foi feliz, com outros foi mulher
Que tem muito ódio no coração, que tem dado muito amor
E espalhado muito prazer e muita dor

Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar
Porque ela vai ser o que quis inventando um lugar
Onde a gente e a natureza feliz vivam sempre em comunhão
E a tigresa possa mais do que o leão

As garras da felina me marcaram o coração
Mas as besteiras de menina que ela disse não
E eu corri pra o violão num lamento
E a manhã nasceu azul
Como é bom poder tocar um instrumento

Áudio Gal Costa



Vídeo Caetano Veloso & Ney Matogrosso

Barato Total


Barato Total
Gilberto Gil

Quando a gente tá contente
Tanto faz o quente, tanto faz o frio, tanto faz
Que eu me esqueça do meu compromisso
Com isso ou aquilo que aconteceu dez minutos atrás
Dez minutos atrás de uma ideia já deu
Pra uma teia de aranha crescer e prender
Sua vida na cadeia do pensamento
Que de um momento pro outro começa a doer

Quando a gente tá contente
Gente é gente, gato é gato
Barata pode ser um barato total
Tudo que você disser deve fazer bem
Nada que você comer deve fazer mal
Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente
Nem pensar que está contente a gente quer
Nem pensar a gente quer, a gente quer
A gente quer, a gente quer é viver

Áudio Gal Costa

sexta-feira, 25 de março de 2011

As Mil e Uma Aldeias



A empolgação da Regina com essa música também me empolgou hehehe...


As Mil e Uma Aldeias
João Bosco e Francisco Bosco

Pra Madagascar
Vou rumar
No sertão do Ceará
Vou passar
Eu levo um mundo
Sem fundo, repleto
De enredos, estradas
Pra gente explorar
Cafarnaum, Jericó, Jequié
Diga pra Nazaré
Que eu não tardo em chegar
Lá em Bagdá
Vou morar
E se Alá me acostumar
Vou ficar
Eu ouço os ventos alíseos
Que sopram
As vozes dos mouros
A me sussurrar
E trago a cobra
Do cesto pra perto
Pra ver se ela sobe
Me ouvindo sambar

Eu sou navegador
Sou de meu tempo capitão
Não preciso mais do mar
Tenho meu motor
Ligado aonde quer que eu vá
Vou sem sair
Do meu lugar
Estar aqui, viver aqui
Que mais isso dirá?
Sou de um país
Chamado qualquer lugar

Ofertai obi
Diamba vai me seduzir
Alcácer Quibir
Ifé obá
Sonhei assim
Ventres, dunas de areia
Carnaval na poeira
Sob as constelações
Simbá vem dizer
Que a terra é o mar
Ô que sopre pra mim
Qualquer direção
Que eu topo embarcar
Fui...

Declamado:
Numa vida anterior fui um xeique opulento
E nobre, tinha damas e safiras a contento
Lá, Xerazade me abrandava a noite escura
Com mil e uma doses de ternura
Vinde a mim, ó poderoso vento
Que sopra a vida de um outro momento
Já posso ver nessa ardente loucura
As areias na terra, as estrelas na altura

Sou navegador...

Áudio João Bosco

Alguém Cantando



Alguém Cantando
Caetano Veloso

Alguém cantando longe daqui
Alguém cantando longe, longe
Alguém cantando muito
Alguém cantando bem
Alguém cantando é bom de se ouvir
Alguém cantando alguma canção
A voz de alguém nessa imensidão
A voz de alguém que canta
A voz de um certo alguém
Que canta como que pra ninguém
A voz de alguém quando vem do coração
De quem mantém toda a pureza
Da natureza
Onde não há pecado nem perdão

Vídeo Caetano Veloso & Gal Costa

O Som da Pessoa



O Som da Pessoa
Gilberto Gil e Bené Fonteles

A primeira pessoa soa como eu sou
A segunda pessoa soa como tu és
A terceira pessoa soa como ele
e ela também

Qualquer pessoa soa
toda pessoa
boa
soa
bem

Vídeo Coral Infanto-Juvenil da Fundec (Sorocaba)



Vídeo Gilberto Gil

Toada (Na Direção do Dia)



Toada (Na Direção do Dia)
Zé Renato, Juca Filho e Cláudio Nucci

Vem morena ouvir comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Pra ver você mais feliz

Escuta o trem de ferro alegre a cantar
Na reta da chegada pra descansar
No coração sereno da toada, bem querer

Tanta saudade eu já senti, morena
Mas foi coisa tão bonita
Da vida, nunca vou me arrepender

Morena, ouve comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Pra ver você mais feliz

Escuta o trem de ferro...

Áudio Boca Livre



quinta-feira, 24 de março de 2011

Guerra de Travesseiros



Guerra de Travesseiros
Silvio Mansani

Chega de bomba
Bomba só de chocolate
Vamos consertar o mundo
Onde está o alicate?
Deus, que bagunça
Esse povo não se emenda
De ajustar os parafusos
Mas cadê a chave de fenda?

Chega de guerra
Guerra só de travesseiros
Nada de briga
Briga, briga, brigadeiro

Paz e alegria agora
Para o mundo inteiro
Paz e alegria, amigo
Não custa dinheiro

Ouça Silvio Mansani & Cravo-da-Terra aqui.

Minha Voz, Minha Vida



Minha Voz, Minha Vida
Caetano Veloso

Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação

Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção

Por ser feliz, por sofrer
Por esperar, eu canto
Pra ser feliz, pra sofrer
Para esperar eu canto

Meu amor, acredite
Que se pode crescer assim pra nós
Uma flor sem limite
É somente porque eu trago a vida aqui na voz

Áudio Gal Costa

O Amor



O Amor
Caetano Veloso e Ney Costa Santos
(baseado em poema de Vladimir Maiakovski)

Talvez
Quem sabe
Um dia
Por uma alameda
Do zoológico
Ela também chegará
Ela que também
Amava os animais
Entrará sorridente
Assim como está
Na foto sobre a mesa

Ela é tão bonita
Ela é tão bonita
Que na certa
Eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias

Agora vamos alcançar
Tudo o que não
Podemos amar na vida
Com o estrelar
Das noites inumeráveis

Ressuscita-me
Ainda
Que mais não seja
Porque sou poeta
E ansiava o futuro

Ressuscita-me
Lutando
Contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso

Ressuscita-me
Quero acabar de viver
O que me cabe
Minha vida
Para que não mais
Existam amores servis

Ressuscita-me
Para que ninguém mais
Tenha de sacrificar-se
Por uma casa
Um buraco

Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de onde
A família se transforme

E o pai
Seja pelo menos
O Universo
E a mãe
Seja no mínimo
A Terra
A Terra
A Terra

Áudio Gal Costa

E O Mundo Não Se Acabou


Assis Valente: 100 anos!


E O Mundo Não Se Acabou
Assis Valente

Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar
Por causa disso
A minha gente lá de casa
Começou a rezar

E até disseram que o sol
Ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez batucada

Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando
De aproveitar

Beijei na boca
De quem não devia
Peguei na mão
De quem não conhecia
Dancei um samba
Em traje de maiô
E o tal do mundo
Não se acabou

Anunciaram...

Chamei um gajo
Com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele
Mais de quinhentão

Agora eu soube
Que o gajo anda
Dizendo coisa
Que não se passou
E, vai ter barulho
E vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou...

Anunciaram...

Vídeo Adriana Calcanhotto aqui.

Áudio Carmen Miranda

quarta-feira, 23 de março de 2011

Guerreiro Coração


Guerreiro Coração
Gonzaguinha

Vai, meu valente parceiro
Meu pequeno guerreiro coração
Enfrentando as barras,
Suportando as garras,
Levando na marra, faz a farra, esquece a dor

Segue no tranco, no arranco
Forte franco decisão
Vai, não se entregue, se negue, se apegue,
Não nos deixe cair no que é tentação
Pois tristeza e alegria são cores
Que a vida apresenta, deixa entrar
As dores de amores e choros e mágoas
Eis aí a nossa vasta experiência, deixa estar

Mas fortaleza, querida
Há sempre um eterno porém, temos que reconhecer
Há sempre no forte a fraqueza
A lembrança de alguém
Um eterno você

E então, não tenha vergonha
Se exponha, desanda, destranca
Manda pra fora
chora comigo, aproveita esta hora
Vamos lá, meu irmão

E então, não tenha vergonha
Se exponha, desanda, destranca
Manda pra fora
chora comigo, aproveita esta hora
Vamos lá, só nós dois
Meu guerreiro coração.

Áudio Emílio Santiago

Coração

 Heart Attack por Jill Morton

Coração
Gonzaguinha

Coração abre essa porta
E pouco importa se é pra sofrer
Deixa entrar a vida
Vale mais é viver

Vale mais o trem das cores
Que uma existência pode perceber
Vale nada porta fechada
Festa acabada
Melhor morrer

Melhor a emoção de tudo
Que acontece em volta da gente
Melhor chorar saborosamente por que viver

Coração não tenha medo
Pela porta aberta vai entrar a vida
Com tudo que ela tem direito e você também

Áudio Gonzaguinha

Cavaleiro Solitário



Cavaleiro Solitário
Gonzaguinha

Atravessei a rua
Atravessei a vida
Acreditei que era perto e fui lá ver
Acreditei que era perto e fui...
Cavaleiro solitário
Caminha com sua estrela
E a fé no vaticínio das visões
Inventa o próprio tempo e estações
Atrai as reações mais loucas
Pessoas diferentes são irmãs
Todos os seus companheiros são iguais
Iguais e diferentes e irmãos
Mil trovões, num encontro de titãs, ô...
Perdão oh minha amada
Eu nunca voltarei
Do mesmo modo
Como um dia eu saí
A vida não tem replay
Há muito eu sei
Foi tudo maravilhoso
Até a hora em que eu parti
Há muito tempo
Cavaleiro Solitário...

Áudio Gonzaguinha

O Cantador



O Cantador
Dori Caymmi e Nelson Motta

Amanhece, preciso ir
Meu caminho é sem volta e sem ninguém
Eu vou pra onde a estrada levar
Cantador, só sei cantar
Ah! eu canto a dor, canto a vida e a morte, canto o amor
Ah! eu canto a dor, canto a vida e a morte, canto o amor

Cantador não escolhe o seu cantar
Canta o mundo que vê
E pro mundo que vi meu canto é dor
Mas é forte pra espantar a morte
Pra todos ouvirem a minha voz
Mesmo longe ...

De que servem meu canto e eu
Se em meu peito há um amor que não morreu
Ah! se eu soubesse ao menos chorar
Cantador, só sei cantar
Ah! eu canto a dor de uma vida perdida sem amor
Ah! eu canto a dor de uma vida perdida sem amor

Vídeo Elis Regina e Dori Caymmi

terça-feira, 22 de março de 2011

Infinito Som



Infinito Som
Ive Luna e Marcelo Mello

O peito é pouco (para um)
coração amalgamado e forte,
(que) pula pro sul,
pula pro norte,
e aporta oco.

Mesmo cais,
remexido mar cambiante,
bailarino sóbrio,
saudoso amante.
Nunca mais.

O sol já veio,
o dia acordou. O amor é meio.
O leite derramou,
branco.

Branca foi a luz
que olhei em teus olhos.
Que olhei. Tanta coisa que olhei com fome
desse vinho louco.

Já não grito.
Vou com a mão aberta.
Longe, lenta, derramada e certa
ao infinito som.

Ouça as músicas do disco Infinito Som do Cravo-da-Terra aqui.

Vídeo Cravo-da-Terra

Suíte Nordestina


'Bumba Meu Boi', de Antonio Poteiro



Suíte Nordestina
Folclore
Arranjo: Ronaldo Miranda

I. Morena Bonita

Morena bonita, o que vem vê?

Ah, ah!
O sol nasceu, virou, pendeu

II. Dendê Trapiá

Coco dendê trapiá
Tá no jeitinho de embolá!

Segunda-feira fui à grade da cadeia
Lá vi eu a coisa feia
A bala dentro trovejá.

Se não tem corage
Se não tem, eu tenho
De pegá na faca
E amarrá no engenho
Cabra, corage eu tenho
De pegá faca Sinhô no engenho.

Coco, dendê, trapiá
Tá no jeitinho de embolá

III. Bumba Chora

Chora, chora bumba
Chora e eu vou embora
Vou me embora, vou tocar minha viola
Nã, nã,
Nã Nã, nã,
Ê Bumba chora, chora,
Ah, chora meu Bumba.

Vou me embora, vou também
Ê chora, ê Bumba chora
Ah, ah, chora meu Bumba

Vou me embora
Segunda-feira que vem
Quem não me conhece chora
Qui dirá quem me qué bem

Chora Bumba, ê Bumba chora!

IV. Eu Vou, Eu Vou

Eu vou, eu vou, você não vai
Apanhar macaúba no balaio

Xiquexique, xiquexique,

Eu vou, eu vou, você não vai
Apanhar macaúba no balaio
Tum, tum, tum, tum, tum! Eu vou!

Vídeo Coral da UnB

segunda-feira, 21 de março de 2011

Alberto



Alberto
Paulo Vanzolini

Alberto
Foi morar na casa da noiva e não deu certo
Alberto era bom demais

Pra sogra fazia o que pouca gente faz
Tratava bem
Com tanto carinho que deu ciúme
Na senhora dum vizinho
Que tendo sua razão foi tirar sastifação
E armou um bode danado que o resultado
Uma viúva ali de perto
Pegou o revolve e se botou atrás de Alberto
E a dona do empório
Assistindo o mistifório
Sorria dizendo assim:
"Essas dona são maluca
Albertinho não faria isso pra mim"
Sua própria empregada
Deu uma risada de pena e disse "Coitada
Arberto só apreceia a cor morena bem queimada"
Já levou uma bofetada pra não ser tão abusada
A confusão se generalizava quando chegou a mulher de Alberto
E vinha brava dando bronquite
"Sou eu a mulher legiti
Casada no padre e no civil
Pela lei do Brasil e do Vaticano"
Já chegou rasgando o pano
Dando sopapo no olho
Puxando o criador de piolho
"Se eu não fosse uma senhora muito fina
Que nem na pinga num xinga
Eu mostrava essas mendiga
Esses pescoço de ganso
Esses couro mal curtido
Mulher de marido manso
Resto de sexta-feira com jejum e bestinência
Que não quisesse a insolência que se por com bom rapaz
Que só tem por seu defeito
Ter nas esquerda do peito
Coração grande demais"
Com essas palavras magoada
Chegou uma cana reforçada
E levou todas as mulherada
Tinha doze das casada
Quinze solteira
Quatorze largada dos marido
O que mais me encheu de dó
Foi lotarem uma perua do juizado de meno
Foram todas pro distrito
Não se deram por achada continuaram seu cunflito
Delegado ficou aflito
Deu um grito formidave
"Desce essas macaca tranca a porta e perde a chave"
E me tragam esse Alberto
Quero falar com ele
Quero conhecer de perto esse grande artista
Dez Sherlock se atiraram nessa pista
Com cachorros policiais
Metralhadoras
Bombas de gás
Reportagem de jornais, emissoras de rádio e de tv
Depois de muito se mexer encontraram Alberto
Lá em Vila Esperança
No jardim brincando com as criança
Sua senhora na cozinha
Fazendo mamadeira da mais novinha
Uma cena comovente
Mas levaram todos em frente
E quem quiser saber mais
Amanhã procure nos jornais

Porque Alberto
Foi morar na casa da noiva e não deu certo
Alberto era bom demais

Áudio Paulo Vanzolini

domingo, 20 de março de 2011

Águas de Março


Dando um tchau para esse longo (e curto) e tenebroso (e sublime) verão, vai aí mais uma superfavorita!

Águas de Março
Tom Jobim

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o matita-pereira

É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
Uma ave no céu, uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto um desgosto, é um pouco sozinho

É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto*
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É pau é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É pau é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

*No segundo vídeo: É um pingo pingando, é um tremendo desconto

Vídeos Elis Regina & Tom Jobim



O Bêbado e a Equilibrista

Charge de Henfil (clique na imagem para ampliar)

Uma das minhas composições favoritas do grande encontro Elis Regina, César Camargo Mariano, João Bosco e Aldir Blanc!

O Bêbado e a Equilibrista
João Bosco e Aldir Blanc

Caía
A tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos
A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E nuvens
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil
Meu Brasil
Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora
A nossa pátria-mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil
Mas sei
Que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança dança
Na corda bamba de sombrinha
Em cada passo dessa linha
Pode se machucar
Azar
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar

Áudio Elis Regina (destaque para a introdução e o final imitando um realejo)



Vídeos Elis Regina







Camisa Listada



Assis Valente: 100 anos!

Camisa Listada
Assis Valente

Vestiu uma camisa listada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: "sossega leão, sossega leão"

Tirou seu anel de doutor para não dar o que falar
E saiu dizendo "eu quero mamar
Mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar"
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: "sossega leão, sossega leão"

Levou o meu saco de água quente pra fazer chupeta
E rompeu minha cortina de veludo pra fazer uma saia
Abriu o guarda-roupa e arrancou minha combinação
E até do cabo de vassoura ele fez um estandarte
Para o seu cordão

Vestiu uma camisa listada...

E agora que a batucada já vai começando
Eu não deixo e não consinto o meu querido debochar de mim
Porque ele pega as minhas coisas vai dar o que falar
Se fantasia de Antonieta e vai dançar na Bola Preta
Até o sol raiar

E tirou o seu anel de doutor...

Áudio Carmen Miranda

Brasil Pandeiro



Assis Valente: 100 anos!

Brasil Pandeiro
Assis Valente

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor
Eu fui na penha, fui pedir ao padroeiro para me ajudar
Salve o morro do vintém, pendura a saia eu quero ver
Eu quero ver o tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar
O tio sam está querendo conhecer a nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato
Vai entrar no cuscuz, acarajé e abará.
Na casa branca já dançou a batucada de ioiô, iaiá
Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar
Há quem sambe diferente noutras terras, noutra gente
Num batuque de matar
Batucada, Batucada, reunir nossos valores
Pastorinhas e cantores
Expressão que não tem par, ó meu Brasil
Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar
Ô, ô, sambar...

Vídeo Novos Baianos

sábado, 19 de março de 2011

Caminhos do Coração (Pessoa = Pessoas)



Caminhos do Coração (Pessoa = Pessoas)
Gonzaguinha

Há muito tempo que eu saí de casa
Há muito tempo que eu caí na estrada
Há muito tempo que eu estou na vida
Foi assim que eu quis, e assim eu sou feliz

Principalmente por poder voltar
A todos os lugares onde já cheguei
Pois lá deixei um prato de comida
Um abraço amigo, um canto prá dormir e sonhar

E aprendi que se depende sempre
De tanta, muita, diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas
Das lições diárias de outras tantas pessoas

E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá
É tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho por mais que pense estar

É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração

O coração, o coração

Áudio Gonzaguinha

sexta-feira, 18 de março de 2011

A Batucada dos Nossos Tantãs - Batucada - Do Jeito Que o Rei Mandou - Re: Batucada



Dica quente da Scheyla Tyzatto: a transa do samba com o hip-hop na Batucada - e Re: Batucada - de Marcelo D2!


A Batucada dos Nossos Tantãs
Sereno, Adilson Gavião e Robson Guimarães

Samba, a gente não perde o prazer de cantar
E fazem de tudo pra silenciar
A batucada dos nossos tantãs
No seu ecoar, o samba se refez
Seu canto se faz reluzir
Podemos sorrir outra vez

Samba, eterno delírio do compositor
Que nasce da alma, sem pele, sem cor
Com simplicidade, não sendo vulgar
Fazendo da nossa alegria, seu habitat natural
O samba floresce do fundo do nosso quintal

[trecho omitido na versão de Marcelo D2]
Este samba é pra você
Que vive a falar, a criticar
Querendo esnobar, querendo acabar
Com a nossa cultura popular
É bonito de se ver
O samba correr, pro lado de lá

[trecho citado no final da versão de Marcelo D2]
Fronteira não há, pra nos impedir
Você não samba mas tem que aplaudir

Batucada
Marcelo D2, Rodrigo Nuts e Zé Gonzales

Do fundo do meu quintal
Faço esse som pra você
Duas vitrolas, vinil e uma SP
Estilo variado fazendo a estrutura balançar
Cantando rap samba láiá láiá láiá
Deixo a temperatura do recinto quente
Com o microfone na mão
Abalando tudo pela frente
Eu entro no samba com meu hip-hop
Ê, DJ
Não precisa presta atenção no que eu to dizendo
Não tenho o que rimar
Eu mando um remendo
Agora lembrei de uma boa que rima com samba
Eu sou da nova geração e
Minha ginga é de bamba
Mas sempre influenciado pela velha guarda
Veio do fundo do quintal essa parada
Fronteira não há para nos dividir*
Você não samba, mas vai ter que aplaudir*


* citação de A Batucada de Nossos Tantãs 

Vídeo Marcelo D2



Vídeo Grupo Fundo de Quintal e Inimigos da HP interpretam 'A Batucada dos Nossos Tantãs'




Do Jeito Que o Rei Mandou
João Nogueira e Zé Catimba

Sorria!
Meu bloco vem bem, descendo a cidade
Vai haver carnaval de verdade
O samba não se acabou

Sorria!
Que o samba mata a tristeza da gente
Quero ver o meu povo contente
Do jeito que o rei mandou

[trecho citado mais adiante na versão de Marcelo D2]
Bate lata, bate surdo
Agogô e tamborim
[trecho omitido na versão de Marcelo D2]
Bate fundo no meu peito
Um amor que não tem fim
E pra não cair da escada
Bate o prego, meu senhor
Bate o pé, mas bate tudo
Do jeito que o rei mandou

Re: Batucada
Marcelo D2

O rei mandou a gente se ajudar
O rei mandou o povo se agilizar
O rei mandou a gente olhar pra frente
Na verdade o parceiro rei tá dentro da mente

Partideiro indigesto eu sou e sei que sou
A procura da batida eu vou e vou que vou
O flagrante tá na mente acabou acabou
Fecha a conta e passa a régua que eu tô que tô

Muito respeito aos arquitetos da música brasileira
Os verdadeiro é aqueles que nunca tão de bobeira
Que no quintal ou na escola o samba é de primeira
Poeta operário de segunda a segunda-feira

Tá na hora de bater essa parada
Da mesa ser virada
Se bora com a conversa fiada
Bate forte no meu peito
Do jeito que não tem fim
Bate surdo agogô pandeiro e tamborim#

Sorria...

Então checa prá cá que o bloco chegou
O samba não se acabou
Não adianta reclamar que não tem caô
O que passou passou

Um carnaval diferente foi o que o rei mandou
E é nesse que eu vou
E nem importa qual direção que eu tô

Produto nacional de exportação do bom
Identidade nacional só prá quem tem o dom
Vacilou sambou literalmente na parada
Essa é pra deixar qualquer cadeira quebrada
Quem diz que o povo esquece facilmente
Te engana novamente
Não quer que você olhe pra frente
Força e coragem prá enfrentar tudo o que vem
Diz que tem
Diz que tem
Diz que tem também

Sorria....

Muito respeito aos verdadeiros arquitetos da música brasileira
Comigo:
Eu digo Chico Science (Chico Science)
Eu digo Cartola (Cartola)
Eu digo Jovelina (Jovelina)
Eu digo Tom Jobim (Tom Jobim)
Eu digo Sabotagem (Sabotagem)*
Eu digo Candeia (Candeia)
Eu digo João Nogueira (João Nogueira)**
Eu digo a Dona Neuma (Dona Neuma)**
Eu digo Pixinguinha (Pixinguinha)*
Tim Maia (Meu Amigo)

Feito no Rio, feito no Rio de Janeiro

# citação (aproximada) de  Do Jeito Que o Rei Mandou
*citado na versão do Acústico MTV
**citado na versão do CD À Procura da Batida Perfeita

Áudio Marcelo D2



Áudio João Nogueira interpreta ‘Do Jeito Que o Rei Mandou’

Aprendendo a Jogar



Aprendendo a Jogar
Guilherme Arantes

Vivendo e aprendendo a jogar
Vivendo e aprendendo a jogar
Nem sempre ganhando
Nem sempre perdendo
Mas aprendendo a jogar

Água mole em pedra dura
Mais vale que dois voando
Se eu nascesse assim pra lua
Não estaria trabalhando

Mas em casa de ferreiro
Quem com ferro se fere é bobo
Cria fama, deita na cama
Quero ver o berreiro na hora do lobo

Quem tem amigo cachorro
Quer sarna pra se coçar
Boca fechada não entra besouro
Macaco que muito pula quer dançar

Áudio Elis Regina



Vídeos Elis Regina



Brincar de Viver



Brincar de Viver
Jon Lucien e Guilherme Arantes

Quem me chamou
Quem vai querer voltar pro ninho
E redescobrir seu lugar

Pra retornar
E enfrentar o dia-a-dia
Reaprender a sonhar

Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim
Continua sempre que você responde sim à sua imaginação
A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não

Você verá que a emoção começa agora
Agora é brincar de viver
E não esquecer, ninguém é o centro do universo
Assim é maior o prazer

Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim
Continua sempre que você responde sim à sua imaginação
A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não

E eu desejo amar todos que eu cruzar pelo meu caminho
Como sou feliz, eu quero ver feliz
Quem andar comigo, vem

Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim
Continua sempre que você responde sim à sua imaginação
A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não.

Vídeo Maria Bethânia

Araçá Azul



Araçá Azul
Caetano Veloso

Araçá Azul é sonho-segredo
Não é segredo
Araçá Azul fica sendo
O nome mais belo do medo

Com fé em deus
Eu não vou morrer tão cedo

Araçá Azul é brinquedo

Áudio Caetano Veloso

Julia / Moreno



Julia / Moreno
Caetano Veloso

Uma talvez Julia
Uma talvez Julia não
Uma talvez Julia não tem
Uma talvez Julia não tem nada
Uma talvez Julia não tem nada a ver
Uma talvez Julia não tem nada a ver com isso
Uma Julia

Um quiçá Moreno
Um quiçá Moreno nem
Um quiçá Moreno nem vai
Um quiçá Moreno nem vai querer
Um quiçá Moreno nem vai querer saber
Um quiçá Moreno nem vai querer saber qual era
Um Moreno

Áudio Caetano Veloso

Batmakumba



Batmakumba
Gilberto Gil e Caetano Veloso

Batmakumbayêyê batmakumbaoba
Batmakumbayêyê batmakumbao
Batmakumbayêyê batmakumba
Batmakumbayêyê batmakum
Batmakumbayêyê batman
Batmakumbayêyê bat
Batmakumbayêyê ba
Batmakumbayêyê
Batmakumbayê
Batmakumba
Batmakum
Batman
Bat
Ba
Bat
Batman
Batmakum
Batmakumba
Batmakumbayê
Batmakumbayêyê
Batmakumbayêyê ba
Batmakumbayêyê bat
Batmakumbayêyê batman
Batmakumbayêyê batmakum
Batmakumbayêyê batmakumbao
Batmakumbayêyê batmakumbaoba

Áudio Os Mutantes

quarta-feira, 16 de março de 2011

Todo Dia É Dia D



Todo Dia É Dia D
Carlos Pinto e Torquato Neto

Desde que saí de casa
Trouxe a viagem da volta
Gravada na minha mão
Enterrada no umbigo
Dentro e fora assim comigo
Minha própria condução

Todo dia é dia dela
Pode não ser, pode ser
Abro a porta e a janela
Todo dia é dia D

Há urubus no telhado
E a carne seca é servida
Escorpião encravado
Na sua própria ferida
Não escapa, só escapo
Pela porta da saída

Todo dia é mesmo dia
De amar-te, a morte morrer
Todo dia é mais dia, menos dia
É dia é dia D

Áudio Gilberto Gil aqui.

Go Back


Go Back
Sérgio Britto e Torquato Neto

Você me chama
Eu quero ir pro cinema
Você reclama
Meu coração não contenta
Você me ama
Mas de repente
A madrugada mudou
E certamente
Aquele trem já passou
Se passou, passou
Daqui pra melhor
Foi!...

Só quero saber
Do que pode dá certo
Não tenho tempo a perder
Só quero saber
Do que pode dá certo
Não tenho tempo a perder...

Áudio Titãs

terça-feira, 15 de março de 2011

Capoeira do Arnaldo



Capoeira do Arnaldo
Paulo Vanzolini

Quando eu vim da minha terra
Passei na enchente nadando
Passei frio, passei fome
Passei dez dias chorando
Por saber que de tua vida
Pra sempre estava passando
Nos passos desse calvário
Tinha ninguém me ajudando
Tava como um passarinho
Perdido fora do bando

Vamo-nos embora, ê ê
Vamo-nos embora, camará
Presse mundo afora, ê ê
Presse mundo afora, camará

Quando eu vim da minha terra
Veja o que eu deixei pra trás
Cinco noivas sem marido
Sete crianças sem pai
Doze santos sem milagre
Quinze suspiros sem ai
Trinta maridos contentes
Me perguntando "já vai?"
E o padre dizendo às beatas
"Milagre custa, mas sai"

Vamo-nos embora, ê ê...

Quando eu vim da minha terra
Num sabia o que é sobrosso
Sabença de burro velho
Coragem de tigre moço
Oração de fechar corpo
Pendurada no pescoço
Rifle do papo-amarelo
Peixeira cabo de osso
Medalha de Padre Ciço
E rosário de caroço
Pra me alisar pelo fino
E arrepiar pelo grosso
Que eu saí da minha terra
Sem cisma
Susto ou sobrosso

Vamo-nos embora, ê ê...

Quando eu vim da minha terra
Vim fazendo tropelia
No lugar onde eu passava
Estrada ficava vazia
Quem vinha vindo, voltava
Quem ia indo, não ia
Quem tinha negócio urgente
Deixava pro outro dia
Padre largava da missa
Onça largava da cria
E os pais de moça donzela
Mudava de freguesia
Mas tinha que fazer força
Porque as moça num queria

Vamo-nos embora, ê ê...

Eu saí da minha terra
Por ter sina viageira
Cum dois meses de viagem
Eu vivi uma vida inteira
Saí bravo, cheguei manso
E macho da mesma maneira
Estrada foi boa mestra
Me deu lição verdadeira
Coragem num tá no grito
E nem riqueza na algibeira
E os pecado de domingo, morena
Quem paga é segunda-feira

Vamo-nos embora, ê ê...

Áudio Bando de Macambira

Mente



Mente
Eduardo Gudin e Paulo Vanzolini 

Mente, ainda é uma saída
É uma hipótese da vida
Mente, sai dizendo que me ama
Mente, espalha essa fama
Me chama de meu amor constantemente
No meio de toda gente e a sós
Entre nós dois, mente

Mente, pra dar um novo início
Ninguém liga a sacrifício
Quando ele é o único meio
Pois na mentira, meu amor
Crer eu não creio
Só pretendo
Que de tanto mentir
Repetir que me ama
Você mesma acabe crendo

Áudio Clara Nunes

Tempo e Espaço



Tempo e Espaço
Paulo Vanzolini

Tempo e espaço eu confundo,
E a linha de mundo é uma reta fechada.
Périplo, cíclo, jornada de luz consumida
E reencontrada.
Não sei de quem visse o começo
E sequer reconheço
O que é meio o que é fim
Pra viver no teu tempo é que eu faço
Viagens no espaço,
De dentro de mim.

Das conjunções improváveis
De órbitas instáveis
É que eu me mantenho
E venho arrimado nuns versos,
Tropeçando universos,
Pra achar-te no fim
Deste tempo cansado de dentro de mim.

Áudio Paulo Vanzolini

Quem?



Quem?
Itamar Assumpção e Alice Ruiz

Quem arrasta os dias
Quando você está fora?
Quem empurra as noites
Para que você entre?
Quem colocou entre nós
Esses parênteses?

Áudio Marcos Suzano, voz e pandeiro (part. Eduardo Neves, sax soprano, Bororó, baixo elétrico, e Alex Meireles, teclado)

Mais Além



Mais Além
Lenine, Bráulio Tavares, Lula Queiroga e Ivan Santos

À leste das montanhas da nação Cherokee
Um índio na motocicleta cruza o deserto
Ao longe o cemitério onde dorme o pai,
Mas ele sabe que seu pai não está ali,
É mais além
Mais além

Na linha que separa
O mar do céu de chumbo
A gaivota caça o peixe radioativo
O náufrago retém a última miragem
E morre como se continuasse vivo
É mais, é mais além
Mais além

Um pouco de exagero, não é nada demais
Um olho nas estrelas, o outro olho aqui
O astrônomo lunático
Brincando com o sol
Descobre que a distância
Não é mais que um cálculo
É mais, é mais, é mais além
Mais além

A lua metafísica na poça de lama,
Ponteiros que disparam
Ao contrário das horas
Hora de saber o que mudou em você,
Que olha no espelho e não vê ninguém
É mais, é mais, é mais, é mais além
Mais além

O homem sobre a areia como era no início
Roçando duas pedras, uma em cada mão
Descobre a fagulha
Que incendeia o paraíso
E imaginou que havia inventado deus
É mais, é mais, é mais, é mais, é mais além
Mais além

Áudio Lenine & Suzano

segunda-feira, 14 de março de 2011

As Minas do Mar



As Minas do Mar
João Bosco e Aldir Blanc

Sou caçador de tesouros
Nas minas do mar.
Mouro, tive ambição, mas
Aprendi que safiras, cristais,
Cordas podres,
Pro mar são iguais.

Mar,
Os malditos tumbeiros,
As proas de impérios,
Dilataram teu seio, é,
E ergueram teu pênis
De sombra e mistério:
És o homem e a mulher.

Tanto azul
E as espadas do sol,
Tanto arpão
Mas o pólen do adeus
Fecundará na saudade a sedução.

Sou peregrino
No amante de todos os rios,
Nos atóis e corais, é,
No crepúsculo piso
Em recifes e escamas
Com as águas em chamas.

Noite,
O escafandro penetra
No útero-mar
E a lua no cio é
Uma loba que o leite
Ao gozar cai no mar
E expande a maré...

Essa cor, de esmeralda-manhã,
Vai virar mil turquesas do Irã
- Se venta assim, ouço a voz do muezim...

Áudio João Bosco

E Então, Que Quereis?... - Corsário



E Então, Que Quereis?... 
Vladimir Maiakovski

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
 

Corsário
João Bosco e Aldir Blanc

Meu coração tropical está coberto de neve
Mas
Ferve em seu cofre gelado
A voz vibra e a mão escreve:
“Mar”
Bendita lâmina grave que fere a parede e traz
As febres loucas e breves
Que mancham o silêncio e o cais

Roseirais, Nova Granada de Espanha
Por você, eu, teu corsário preso

Vou partir
A geleira azul da solidão
E buscar a mão do mar
Me arrastar até o mar
Procurar o mar

Mesmo que eu mande em garrafas
Mensagens por todo o mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá
Como as garrafas de náufrago
E as rosas partindo o ar
Nova Granada de Espanha
E as rosas partindo o ar

Vídeos João Bosco






Vídeo Elis Regina

Das Marés

Beyond the Pale Afterglow (Além do Pálido Arrebol), de Zoe Fischer

Das Marés
João Bosco e Francisco Bosco

Diga o que vem depois do arrebol
Noite escura ou céu claro de anil
Já senti nostalgia do sol
Sabe como é
Não saber sequer
Se a tristeza tem fim

Já molhei os meus olhos no sal
Tal as dores em tudo o que vi
E criei poças sem temporal
Sabe como é
Quando a tarde cai
Maré baixa de mim

Eis aqui
Deus do amanhã
Força maior que a vontade e a fé
Pendular
A vida é
Já a bonança anuncia a manhã

Que na verdade tudo depende do olhar
Felicidade é coisa pra gente criar
Ao som dessa guitarra que chora de amar
Lágrimas e dores eu posso cantar

Áudio João Bosco