terça-feira, 15 de março de 2011
Capoeira do Arnaldo
Capoeira do Arnaldo
Paulo Vanzolini
Quando eu vim da minha terra
Passei na enchente nadando
Passei frio, passei fome
Passei dez dias chorando
Por saber que de tua vida
Pra sempre estava passando
Nos passos desse calvário
Tinha ninguém me ajudando
Tava como um passarinho
Perdido fora do bando
Vamo-nos embora, ê ê
Vamo-nos embora, camará
Presse mundo afora, ê ê
Presse mundo afora, camará
Quando eu vim da minha terra
Veja o que eu deixei pra trás
Cinco noivas sem marido
Sete crianças sem pai
Doze santos sem milagre
Quinze suspiros sem ai
Trinta maridos contentes
Me perguntando "já vai?"
E o padre dizendo às beatas
"Milagre custa, mas sai"
Vamo-nos embora, ê ê...
Quando eu vim da minha terra
Num sabia o que é sobrosso
Sabença de burro velho
Coragem de tigre moço
Oração de fechar corpo
Pendurada no pescoço
Rifle do papo-amarelo
Peixeira cabo de osso
Medalha de Padre Ciço
E rosário de caroço
Pra me alisar pelo fino
E arrepiar pelo grosso
Que eu saí da minha terra
Sem cisma
Susto ou sobrosso
Vamo-nos embora, ê ê...
Quando eu vim da minha terra
Vim fazendo tropelia
No lugar onde eu passava
Estrada ficava vazia
Quem vinha vindo, voltava
Quem ia indo, não ia
Quem tinha negócio urgente
Deixava pro outro dia
Padre largava da missa
Onça largava da cria
E os pais de moça donzela
Mudava de freguesia
Mas tinha que fazer força
Porque as moça num queria
Vamo-nos embora, ê ê...
Eu saí da minha terra
Por ter sina viageira
Cum dois meses de viagem
Eu vivi uma vida inteira
Saí bravo, cheguei manso
E macho da mesma maneira
Estrada foi boa mestra
Me deu lição verdadeira
Coragem num tá no grito
E nem riqueza na algibeira
E os pecado de domingo, morena
Quem paga é segunda-feira
Vamo-nos embora, ê ê...
Áudio Bando de Macambira
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