terça-feira, 3 de maio de 2011

Moleque

Foto: Wilton Montenegro 

Esta postagem inicia um novo tema: retratos da infância na música popular. Hoje apresento Moleque, do saudoso Gonzaguinha, que nos deixou há 20 anos, embora esteja sempre presente todo dia, toda hora em suas músicas sempre tão inspiradas e inspiradoras. A ideia desse tema surgiu a partir da foto acima, do encarte do disco Moleque Gonzaguinha, de 1977. Me lembrei que há também outras canções muito interessantes que retratam a situação de muitas crianças, no panorama daquela época, o que já prenunciava - infelizmente - o nosso tempo hoje. O vídeo com Gonzaguinha postado aqui é provavelmente do V Festival da Música Popular Brasileira, veiculado pela TV Record em 1969, cuja seleção de 12 finalistas - incluindo a vencedora Sinal Fechado, de Paulinho da Viola - foi lançada em LP no mesmo ano (por razões contratuais, no disco Paulinho não pôde participar e Sinal Fechado foi então interpretada pelo MPB-4). Gonzaguinha também lançaria essa música, como novo arranjo, em seu álbum de estreia, de 1973, e no disco de 1977 já citado.


Moleque
Gonzaguinha

No tiro, estilingue, bodoque
O teco, o toque, o coque
No quengo, na cuca, cabeça
De qualquer caraça avessa
Qualquer carantonha fechada
Azeda de feia zangada
Que mexa, chateia, me bula
Pra ver quanto alto sapo pula
Pedra vai levar.

Ah! Moleque, se um dia eu te pego
Erva daninha, estrepe
De ripa, marmelo te esfrego
Moleque, vem cá
Moleque, moleque, vem cá
Moleque
Ah! Não, não eu não vou lá.
Vem me pegar, quero ver.

De mão, de pé, pau cajado
No tapa, na briga me acabo
Revolvo, reviro, decido
E mesmo no ganho ou perdido
Me amigo ao amigo inimigo,
Me livro do mal e do perigo
De bicho pelado que trança
Ideias de uma vingança,
Que é pra me cuidar

Ah! Moleque, se um dia eu te pego...

Fruto gostoso, desejado
Lua, vizinho, cuidado,
Cercadura, arame rela
Rosto, rosa, luz, janela
Siu, assovio, voz rouca,
Beijo estalado na boca
Depois a corrida abraçado
No peito o gosto de um amor roubado
Que é só pra provar.

Ah! Moleque, se um dia eu te pego...

No medo, não tremo, não corro
Avanço, me lanço, estouro
Valente, eito combato
E ao mesmo tempo me trato
Covarde na sabedoria
Que ergue, cresce, se cria
Só na hora boa e precisa
E corta o mal bem onde enraíza
Que é pra não voltar.

Ah! Moleque, se um dia eu te pego...

Vídeo Gonzaguinha

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